EM SÃO MIGUEL O ANJO

sexta-feira, 13 de julho de 2018

LENDA OU MILAGRE DE PEDROUÇOS

No monte pedregoso que terá dado o nome de Petrauzos, pedrouzos ou pedroucos, e atualmente Pedrouços, à mais jovem freguesia da Maia, reza a história, de tempos muito distantes, que me foi “legada” por Avelino Moura Lopes, que foi membro da Comissão Instaladora desta nova freguesia.
Sobre o nosso diálogo e abordagem sobre a lenda ou milagre, que se verificou no cimo desse montado pedregoso, e muito antes da construção da Ermida a São Pedro, há muito desaparecida e no lugar onde hoje se encontra a capela da Nossa Senhora da Natividade, descrevo-a da seguinte forma:

Andava uma mulher do povo a estender roupa entre mato e giestas. Sobre uma cama de fetos improvisada, coberta com o seu avental, deitou à sombra o filho de tenra idade, enquanto estendia a roupa a corar e a secar ao sol.
A fome despertou a criança que desatou a chorar continuamente. 
Apressada e cuidadosa, a roupeira ergueu o cachopo nos braços e aconchegou-o ao peito, sentada num penedo. 
Deitada sobre o colo da mãe, de boquita aberta e sôfrega, o cachopo procurava desesperado o mamilo da progenitora, que prontamente lhe solta a mama a descoberto sobre o franzino e tenro rosto.
Entretanto, o cheiro do leite atraíra uma cobra que deslizou silenciosamente na sua direção, e saltara-lhe para o regaço.
Aflita e assustadíssima, a mulher mais não fez do que rezar com toda a sua fé ao Senhor dos Aflitos, pedindo-lhe que a livrasse do réptil. 
E, parecendo obedecer a ordem divina, a cobra sem lhe provar o leite nem os morder, deixou-se deslizar pelo regaço abaixo até ao chão e foi de novo recolher-se no interior de uma brecha entre dois penedos a seus pés.
Acreditando tratar-se de milagre, a roupeira ajoelhou-se rezando e agradecendo ao Senhor por a escutar, prometeu mandar construir uma capela junto ao caminho na encosta do monte.


E é esta a Capela, construída por volta de 1440. No seu interior permanece uma cruz em pedra com a pintura do Senhor dos Aflitos, com a serpente à volta do corpo.
Quase despercebida, esta capela é de propriedade privada, de lavradores de Pedrouços. À sua esquerda, muito antes das construções das habitações laterais, (que a entalaram) havia uma estreita escadaria “manhosa” que foi criada quase 300 anos depois, aquando da construção da Igreja de Pedrouços, em 1743, que foi ampliada por volta de 1871, tendo e 8 de Setembro de 1928, passado a ter como Orago, Nossa Senhora da Natividade, pelo 1º Ciclo do Porto, Areosa, Pedrouços.
Com base nessa estória e embora mantendo algumas dúvidas sobre as manifestações religiosas que se desenvolveram a partir da sua construção, a verdade é que muitos cruzeiros foram erigidos a partir daí, possivelmente 14 que representariam a Via Sacra que se estendia pela rua Luís de Camões,frente à capela, seguindo por António Simões, Levadinha e rua do Calvário, (hoje Plácido D’Abreu) até ao Calvário de 3 cruzes que se situava, próximo de onde é hoje a entrada sul da Casa do Alto, onde terminava essa rus junto ao pinhal, antes de chegar à Mansão da Colina = casa do Alto.
E ficou-me essa ideia como mais lógica, pois não há registo que o digam ou contradigam.
Para além desta narrativa, elaborei a poesia condizente de forma a informar e perpetuar culturalmente a lenda ou milagre de Pedrouços que consta do meu primeiro livro de “Contos e Versos do Meu Caminho” editado pela Papiro Editora.


O MILAGRE
(Lenda de Pedrouços – Maia)


Andava a mulher na lida,
Sobre as pedras a estender;
Roupa lavada, espremida,
Para secar e aquecer.


Andava a mulher na lida,
No cimo do monte a corar,
Rouparia sacudida,
E o cachopo a chorar.


Deitado em fetos e rama,
De fome chorava a criança;
Ansiando o leite, a mama,
Amor de mãe logo a alcança.

 Pega o cachopo no colo,
Teve a lida que esperar;
Deu a mama, deu consolo,
À criança a amamentar.


Pela brecha de um penedo,
Uma cobra ou serpente;
Tolheu a mulher de medo,
Ao surgir tão de repente.


Assustada a roupeira,
Pôs-se aflita a rezar…
Mas a serpente matreira
Foi o seu leite cheirar.


Com a cobra sobre o peito,
A orar naquela hora;
Que um milagre fosse feito,
Para que e o bicho fosse embora.


Pela graça concedida,
Uma capela ali nasceu;
Naquele local erguida,
Como ao senhor prometeu.

José Faria🤔✍️😲📚📖
(Publicado em Memórias da Maia, em "Contos e Versos do Meu Caminho e em "LENDAS DA MAIA"

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