EM SÃO MIGUEL O ANJO

quarta-feira, 25 de agosto de 2021

O MILAGRE DA NASCENTE

 D. AFONSO, D. GONÇALO E O EREMITA

Reza a lenda que o exército cristão libertador, sedente e exausto, liderado por D. Afonso Henriques, tendo por braço direito Gonçalo Mendes da Maia, viajava já há muitos dias por campos, montes e vales a caminho das terras da Maia, ansiosos por encontrar uma fonte de água.
No caminho cruzaram-se com um velho eremita que seguia sobre um burrito, a quem perguntaram se sabia de alguma fonte ou nascente nas imediações.
O eremita respondeu-lhes que conhecia um poço comunitário, num pequeno povoado, mas a mais de cinco léguas dali, lá mais para norte. Mas ao ver as bandeirolas de Cristãos Libertadores, seguidores de Deus, disse-lhes que se o Deus dos cristãos era assim tão poderoso, então que fizesse nascer ali mesmo uma fonte. – “Se o fizer, até eu passo a ser cristão”, disse o eremita.
Calmamente e muito compenetrado, D. Afonso Henriques, deu ordem para descansarem ali. Desmontou também do cavalo e sob o olhar atento de Gonçalo Mendes da Maia, retirou-se alguns metros para junto de uns penedos, onde se ajoelhou a rezar. Ao levantar-se para regressar junto das suas tropas, ouviu e sentiu um pequeno estalido debaixo dos pés e, ao olhar para o chão, viu jorrar da base das rochas uma nascente de água pura e fresca, que logo formou um pequeno regato.
Sequiosos e perante o milagre, todos os cavaleiros se ajoelharam a beber da água que corria. Boquiaberto, o eremita bebeu também e encheu os seus cantis, e perante todos, prometeu devotar-se para sempre ao cristianismo e defender as leis de Deus.
(Lenda da história portuguesa, de narrativa corrigida e melhorada)

 O MILAGRE DA NASCENTE 

Seguia o exército cansado e sequioso,
Por D. Afonso Henriques comandado;
Até que Gonçalo Mendes cuidadoso,
Lhe pediu para descansarem um bocado.
 
Um eremita num burro se aproximou,
Na sua direção subindo o monte;
A quem D. Afonso perguntou,
Se conhecia por ali alguma fonte.
 
“Encontrar uma aqui, só por sorte,
A fonte mais próxima está distante;
A mais de cinco léguas para norte,
O melhor será seguir adiante.
 
Se a vossa fé não vos mente,
E vosso Deus é o mesmo de Abraão;
Que faça aqui surgir uma nascente,
Que até eu passarei a ser cristão.”
 
Mandou Gonçalo Mendes desmontar,
E quando D, Afonso se deslocou,
Para junto de um penedo e aí rezar,
Foi quando o seu exército descansou.


Sentiu junto a si o chão tremer;
E quando aos pés desceu o olhar
Viu uma fonte de água a nascer.
A encher os cantis e a beber;

D. Afonso Henriques após orar,
Todos se ajoelharam em gratidão,
O Eremita passou a ser cristão,
E às leis de Deus sempre obedecer.

Lenda da história com poesia de José Faria

Em Lendas da Maia

terça-feira, 24 de agosto de 2021

O BOI MORTO DE PEDROUÇOS - MAIA

 BOI MORTO

As fotos atuais, mostram a rua D. António de Castro Meireles, precisamente onde nos anos sessenta à sua direita só haviam bouças, e à sua esquerda um baixio de campos de cultivo descendo até um ribeiro que limita a Maia de Matosinhos (mais precisamente Pedrouços de São Mamede Infesta) e que desagua no rui Leça no lugar de Parada.
E foi aqui, segundo reza a lenda, contos e ditos e o nome que deram a este sítio “lugar do Boi Morto”, que terá morrido um boi afogado numa represa que ali havia. ou no ribeiro mais abaixo. Mas nada de concreto ou de resisto, apenas “diz-se que”!?
E com base no “diz-se que”, dei-me ao cuidado de dar literariamente consistência à lenda, contemplando com poesia, tal como fiz com outros “diz-se que” de outras freguesias da Maia.

LENDA DO BOI MORTO

- Pedrouços – Maia -

Andava certo dia o lavrador Lima no lameiro a cortar erva para o gado. Conforme a ia segando, ia-a deixando em montes à sua agachada passagem. O corte a olho ia certinho, mostrando bem a parte cortada a partir da linha de água. Tinha desatrelado os bois do carro junto aos moinhos sobre o ribeiro que nasce na cidade do Porto, no alto da Areosa e atravessa Pedrouços e Teibas em direção a Parada, para aí se juntar às águas do rio Leça.
Os bois andavam à vontade a pastar. Como ainda não tinha feixes de erva suficientes para encher o carro, e porque já eram mais do que horas para almoçar, pois já tinha tocado as duas no sino da igreja de Pedrouços, o Lima deixou o trabalho e foi ao tasco comer qualquer coisa na rua D. António Castro Meireles, a pouco mais de cem metros do campo. Um fígado de cebolada com batata cozida, um naco de broa e duas tigelas de verde tinto, restituíram-lhe as energias despendidas durante toda a manhã agachado a cortar erva. Ia segar mais uns 10 ou 15 feixes para encher o carro, e daria por terminada a faina.
Descendo a ladeira com a foicinha sobre o ombro e a fumar um pequeno Kentucky, regressou e dirigiu-se para onde tinha terminado o último corte. Deitou os olhos na direção dos moinhos para ver os animais e só viu um deitado à sombra. Olhou e voltou a olhar mais acima, mais abaixo, para ver se enxergava o outro também deitado. Nada. - Onde raio se meteu o animal? Pensou em voz alta. Foi na direção do que estava deitado à sombra do moinho. Quando chegou junto dele é que reparou que mais abaixo, o outro estava dentro do ribeiro. - Que raio, como é que aí foste parar?
E foi na sua direção. Mas começou já a imaginar o pior, o boi não se mexia, a água quase o cobria junto ao moinho. – “Meu deus, o meu boi está morto! Meu Deus quem me acode… o meu boi afogou-se!
 Alguns populares na rua ouviram-no e foram na sua direção para o ajudar. Nada a fazer. O boi terá escorregado ou talvez querendo beber água, aproximou-se demasiado do ribeiro e caiu lá dentro, precisamente junto ao moinho onde o ribeiro faz represa e é mais fundo. Com o corpo tapou a passagem da água que passa por debaixo do moinho e fê-la subir ainda mais cobrindo o animal que morreu afogado.
Tenha calma, sô Lima, tenha calma. Diziam alguns populares.
Daí que, ainda hoje, mais ou menos a meio dessa rua D. António Castro Meireles, (atravessada agora pela autoestrada) ser conhecido de lugar do Boi Morto-

 BOI MORTO

LENDA DO BOI MORTO

 

Ainda a aurora despertava,
Em raios cheios de encanto;
Já o lavrador guiava,
O carro de bois ao campo.
 
Foi à leira do lameiro,
Segar erva para o gado,
Junto ao moinho e ribeiro,
Pelos choupos sombreado.
 
Retirou o jugo aos bois,
Deu-lhes erva a comer;
Deixou-os num sítio os dois,
Onde os pudesse ver.
 
Ora fuma, ora assobia,
Com os feixes a aumentar;
Veio a fome e o meio-dia
E o momento de almoçar.
 
Subiu à rua, foi ao tasco,
Calar a fome danada;
Onde bebeu um verdasco,
Com fígado de cebolada.
 
Desceu de novo ao lameiro,
A cortar mais alguns molhos,
E na direção do ribeiro,
Atento deitou os olhos.
 
Só viu um boi, o castanho,
Enquanto descia o couto;
Achou aquilo muito estranho,
Onde se terá metido o outro.
 
Faltava-lhe o velho macho,
Porque estava este sozinho;
Vi-o no ribeiro abaixo,
Dentro de água, no moinho
 
Como foste aí parar?
Pensou alto o lavrador.
Se calhar foi se molhar,
Por estar tanto calor.
 
Quando chegou mais perto,
Viu que o boi não se mexia;
De água quase coberto,
Quase parada, não corria.
 
Quando o boi ali caiu,
A água terá tapado;
Que lentamente o cobriu,
Tendo aí se afogado.
 
Em desespero o lavrador,
Do mal que lhe aconteceu;
Chorava com mágoa e dor,
“Meu Deus, meu boi morreu”.
 
Fosse mentira ou verdade,
Isto há muito era contado;
Só lhe dei mais qualidade,
P’ró boi morto ser lembrado.

Narrativa e poesia de José Faria

 Reservados todos os direitos de autor.
- Publicado em Lendas da Maia

domingo, 15 de agosto de 2021

SONHAR É PRECISO

 Sonhar é Preciso


"Sem sonhos, as pedras do caminho tornam-se montanhas, os pequenos problemas são insuperáveis, as perdas são insuportáveis, as deceções transformam-se em golpes fatais e os desafios em fonte de medo.

Voltaire disse que os sonhos e a esperança nos foram dados como compensação às dificuldades da vida. Mas precisamos de compreender que os sonhos não são desejos superficiais. Os sonhos são bússolas do coração, são projetos de vida. Os desejos não suportam o calor das dificuldades. Os sonhos resistem às mais altas temperaturas dos problemas. Renovam a esperança quando o mundo desaba sobre nós.

John F. Kennedy disse que precisamos de seres humanos que sonhem o que nunca foram. Tem fundamento o seu pensamento, pois os sonhos abrem as janelas da mente, arejam a emoção e produzem um agradável romance com a vida.

Quem não vive um romance com a sua vida será um miserável no território da emoção, ainda que habite em mansões, tenha carros luxuosos, viaje em primeira classe nos aviões e seja aplaudido pelo mundo.

Precisamos de perseguir os nossos mais belos sonhos. Desistir é uma palavra que tem de ser eliminada do dicionário de quem sonha e deseja conquistar, ainda que nem todas as metas sejam atingidas. Não se esqueça de que você vai falhar 100% das vezes em que não tentar, vai perder 100% das vezes em que não procurar, vai ficar parado 100% das vezes em que não ousar andar.

Como disse o filósofo da música, Raul Seixas: "Tenha fé em Deus, tenha fé na vida, tente outra vez..." Se você sonhar, poderá sacudir o mundo, pelo menos o seu mundo...

Se você tiver de desistir de alguns sonhos, troque-os por outros. Pois a vida sem sonhos é um rio sem nascente, uma praia sem ondas, uma manhã sem orvalho, uma flor sem perfume.

Sem sonhos, os ricos ficam deprimidos, os famosos aborrecem-se, os intelectuais tornam-se estéreis, os livres tornam-se escravos, os fortes tornam-se tímidos. Sem sonhos, a coragem dissipa-se, a inventividade esgota-se, o sorriso vira um disfarce, a emoção envelhece.

Liberte a sua criatividade. Sonhe com as estrelas, para poder pisar a Lua. Sonhe com a Lua, para poder pisar as montanhas. Sonhe com as montanhas, para pisar sem medo os vales das suas perdas e frustrações.

Apesar dos nossos defeitos, precisamos de ver que somos pérolas únicas no teatro da vida e compreender que não existem pessoas de sucesso ou pessoas fracassadas. O que existe são pessoas que lutam pelos seus sonhos ou desistem deles.

Augusto Cury (de O Pensador:  https://www.pensador.com/autor/augusto_cury/ )

domingo, 1 de agosto de 2021

PÉ NO CAMINHO

A pedalar fiz meu caminho,
Que me levou a Santiago;
Nem tudo vi de pertinho,
É a falta que em mim trago.
 
Só a pé, junto ou sozinho,
Mais admiro e indago;
A natureza com carinho,
E a vida que em mim trago.
 
Assim se vai cimentando,
A vontade e a procura,
De tudo ver com devoção;
 
Partindo a pé à aventura,
Assim me vou encontrando,
Mais perto da criação.

Soneto de José Faria 01/08/2021
Foto do Site: - Mochilaosabatico.com