BOI MORTO
As fotos atuais, mostram a rua D.
António de Castro Meireles, precisamente onde nos anos sessenta à sua direita
só haviam bouças, e à sua esquerda um baixio de campos de cultivo descendo até
um ribeiro que limita a Maia de Matosinhos (mais precisamente Pedrouços de São
Mamede Infesta) e que desagua no rui Leça no lugar de Parada.
E foi aqui, segundo reza a lenda,
contos e ditos e o nome que deram a este sítio “lugar do Boi Morto”, que terá
morrido um boi afogado numa represa que ali havia. ou no ribeiro mais abaixo.
Mas nada de concreto ou de resisto, apenas “diz-se que”!?
E com base no “diz-se que”,
dei-me ao cuidado de dar literariamente consistência à lenda, contemplando com
poesia, tal como fiz com outros “diz-se que” de outras freguesias da Maia.
LENDA DO BOI MORTO
- Pedrouços – Maia -
Andava certo dia o lavrador Lima
no lameiro a cortar erva para o gado. Conforme a ia segando, ia-a deixando em
montes à sua agachada passagem. O corte a olho ia certinho, mostrando bem a
parte cortada a partir da linha de água. Tinha desatrelado os bois do carro
junto aos moinhos sobre o ribeiro que nasce na cidade do Porto, no alto da
Areosa e atravessa Pedrouços e Teibas em direção a Parada, para aí se juntar às
águas do rio Leça.
Os bois andavam à vontade a
pastar. Como ainda não tinha feixes de erva suficientes para encher o carro, e
porque já eram mais do que horas para almoçar, pois já tinha tocado as duas no
sino da igreja de Pedrouços, o Lima deixou o trabalho e foi ao tasco comer
qualquer coisa na rua D. António Castro Meireles, a pouco mais de cem metros do
campo. Um fígado de cebolada com batata cozida, um naco de broa e duas tigelas
de verde tinto, restituíram-lhe as energias despendidas durante toda a manhã
agachado a cortar erva. Ia segar mais uns 10 ou 15 feixes para encher o carro,
e daria por terminada a faina.
Descendo a ladeira com a foicinha
sobre o ombro e a fumar um pequeno Kentucky, regressou e dirigiu-se para onde
tinha terminado o último corte. Deitou os olhos na direção dos moinhos para ver
os animais e só viu um deitado à sombra. Olhou e voltou a olhar mais acima,
mais abaixo, para ver se enxergava o outro também deitado. Nada. - Onde raio se
meteu o animal? Pensou em voz alta. Foi na direção do que estava deitado à
sombra do moinho. Quando chegou junto dele é que reparou que mais abaixo, o
outro estava dentro do ribeiro. - Que raio, como é que aí foste parar?
E foi na sua direção. Mas começou
já a imaginar o pior, o boi não se mexia, a água quase o cobria junto ao
moinho. – “Meu deus, o meu boi está morto! Meu Deus quem me acode… o meu boi
afogou-se!
Alguns populares na rua ouviram-no e foram na
sua direção para o ajudar. Nada a fazer. O boi terá escorregado ou talvez
querendo beber água, aproximou-se demasiado do ribeiro e caiu lá dentro,
precisamente junto ao moinho onde o ribeiro faz represa e é mais fundo. Com o
corpo tapou a passagem da água que passa por debaixo do moinho e fê-la subir
ainda mais cobrindo o animal que morreu afogado.
Tenha calma, sô Lima, tenha
calma. Diziam alguns populares.
Daí que, ainda hoje, mais ou
menos a meio dessa rua D. António Castro Meireles, (atravessada agora pela
autoestrada) ser conhecido de lugar do Boi Morto-
BOI MORTO
LENDA DO BOI
MORTO
Ainda a
aurora despertava,
Em raios
cheios de encanto;
Já o lavrador
guiava,
O carro de
bois ao campo.
Foi à leira
do lameiro,
Segar erva
para o gado,
Junto ao
moinho e ribeiro,
Pelos choupos
sombreado.
Retirou o
jugo aos bois,
Deu-lhes erva
a comer;
Deixou-os num
sítio os dois,
Onde os
pudesse ver.
Ora fuma, ora
assobia,
Com os feixes
a aumentar;
Veio a fome e
o meio-dia
E o momento
de almoçar.
Subiu à rua,
foi ao tasco,
Calar a fome
danada;
Onde bebeu um
verdasco,
Com fígado de
cebolada.
Desceu de
novo ao lameiro,
A cortar mais
alguns molhos,
E na direção
do ribeiro,
Atento deitou
os olhos.
Só viu um
boi, o castanho,
Enquanto
descia o couto;
Achou aquilo
muito estranho,
Onde se terá
metido o outro.
Faltava-lhe o
velho macho,
Porque estava
este sozinho;
Vi-o no
ribeiro abaixo,
Dentro de
água, no moinho
Como foste aí
parar?
Pensou alto o
lavrador.
Se calhar foi
se molhar,
Por estar
tanto calor.
Quando chegou
mais perto,
Viu que o boi
não se mexia;
De água quase
coberto,
Quase parada,
não corria.
Quando o boi
ali caiu,
A água terá
tapado;
Que
lentamente o cobriu,
Tendo aí se
afogado.
Em desespero
o lavrador,
Do mal que
lhe aconteceu;
Chorava com
mágoa e dor,
“Meu Deus,
meu boi morreu”.
Fosse mentira
ou verdade,
Isto há muito
era contado;
Só lhe dei
mais qualidade,
P’ró boi
morto ser lembrado.
Narrativa e
poesia de José Faria
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