EM SÃO MIGUEL O ANJO

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

O SOM DO VENTO

  VOZES DE NINGUÉM
Anda um som por aí no ar,
No ar anda uma voz também;
Não é voz de se falar,
É uma voz de ninguém.

Chega mesmo a assobiar,
E como assobia tão bem;
É como um lamento a passar,
Num constante vai e vem.

Por entre as brechas das casas
Das janelas e telhado,
Sacode árvores do jardim,

Estas falas que tem asas,
Andam de lado para lado,
O vento sempre foi assim.
José Faria

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

CONTOS DE MIGUEL TORGA


 A RESSURREIÇÃO
De Miguel Torga
Gostei tanto de ler os “CONTOS DA MONTANHA” DE Miguel Torga, que me dei ao cuidado de aqui transcrever um “pedaço” inicial de uma dessas narrativas.

- “Não há em toda a montanha terra tão desgraçada e tão negra como Saudel. Aquilo nem são casas, nem lá mora gente. São tocas com bichos dentro.
Apesar disso, Cristo Nosso Senhor, aos domingos, digna-se visitar a aldeia na pessoa do padre Unhão, que vem rezar missa ao nascer do sol. O padre apeia-se da égua, assoa-se a um lenço tabaqueiro encardido, tosse, dá duas badaladas no sino e entra numa igreja tão escura e tão gelada, que se lembra sempre duma pneumonia dupla. Diz o intróito com muita solenidade, sobe as escadas de granito, lê, treslê, vira-se, volta-se, benze-se, e, por fim, prega.
É sempre uma descompostura de cima abaixo: que ninguém presta. Que os pais são assim, que as mães são assado, que as filhas são porcas, que os filhos são brutos, que é tudo uma miséria.
Saudel, abismado, ouve. Depois, à saída, pôs-se a ruminar. Quem irá dizer lá em cima tão mal do povo? Os homens cavam de manhã à noite, as mulheres parem quantas vezes a Virgem Maria quer, os rapazes e as raparigas vão com o gado… Quem irá meter coisas daquelas nos ouvidos de Deus?
Seja quem for, o certo é que no domingo seguinte, Nosso Senhor, sempre pela boca sem dentes do abade, recomeça a ralhar: “Que o fim do mundo está perto e que não haja ilusões. Todos para as profundezas do inferno! Os velhos, as velhas e os novos. Ficam só as ovelhas.
Saudel, aí, desespera. Chora umas lágrimas negras, barrentas, e geme como quem uiva.
Os rebanhos na serra sem pastor! O que teriam dito de Saudel no céu!
E o pior é que nem o próprio padre Unhão descortina saída para semelhante calamidade, depois da falência do remédio que tentou. Seguro de que a misericórdia divina tudo pode, resolveu salvar o desterrado lugarejo e a sua endemoninhada gente, através de um ato coletivo de expiação. Endoenças. Estava a Semana Santa à porta. Realizasse o povo Endoenças e remisse os pecados na dor e na oração.
Saudel, lanzudo como os carneiros, nem sequer percebeu o que eram Endoenças.
E foi preciso o padre explicar. Eram a Paixão e a Morte do Nosso Senhor Jesus Cristo, representadas ao natural. (…/…)”
- E pronto. Nem me atrevo a descrever mais deste conto de Miguel Torga. É muito interessante, mas ao fazê-lo, lembro e relembro e tenho sempre presente e perturbantemente, aquele sermão, aqueles sermões continuados e cansativos e repetidos diariamente, em cinco dias de festa religiosa e profana da Senhora da Natividade. Pois da mesma forma que em Saudel o padre Unhão falava como um pastor para as ovelhas, da mesma forma bufam, tossem e cospem os altifalantes espalhados pelas ruas da minha aldeia maiata às portas da cidade do Porto.
José Faria

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

OS ROMANOS EM TERRAS DA MAIA


BRÁCAROS OU CASTREJOS
E a província da Terraconense que incluiu as Terras da Maia

Imperador Augusto
Recuando ao ano 137 a. C. encontramos passadas dos romanos por terras da Maia. E é consultando os estudos sobre esta terra, levados a efeito por Carlos Alberto Ferreira de Almeida, que encontramos, entre outros povos que por aqui habitavam, os romanos que a eles se se sobrepuseram e os subjugaram às suas ordens, leis e organização.
Neste contexto, refere Carlos Almeida em a “Conquista Romana e Organização Política”:
-“Foi no rescaldo das guerras com os Lusitanos que Décimo Júnio Bruto veio subjugar os povos que habitavam a zona portuguesa a Norte do rio Douro. Saiu de Olisipo, atual Lisboa, por itinerário cuja demarcação está cheia de problemas. E foi nessa altura, no ano 137 a. C., que passa o rio Douro e o rio Lima e, quando ia a transpor o rio Minho, os povos Brácaros atacaram a retaguarda do seu exército. Virando-se de novo contra eles, subjugou-os. 
Mas a bravura que mostraram com as mulheres a combater ao lado dos homens, as quais para fugirem à escravidão matavam os próprios filhos e se suicidavam, espantou os romanos, como refere Apiano.
É evidente que nestes brácaros estão incluídos os povos que, no tempo, habitavam a zona das Terras da Maia. Brácaros ou castrejos lhes podemos chamar. Mas nunca lusitanos.

Esta expedição em época tão antiga sem que antes apareçam, em cena de guerra, os povos que habitavam o Noroeste, segundo o parecer acertado do Prof. J. Maria Blazquez, não teria outra finalidade senão a busca de ouro e prata em que estes povos eram ricos. Seria ainda, acima de tudo, por interesse nos metais preciosos, para poder efetivar uma exploração maciça das minas de ouro da zona, que Augusto se decide pelas campanhas pacificadoras do Norte e Noroeste da Hispânia. Estas guerras duram do ano 25 a 10 a. C..
Uma legião atuaria, segundo Schulten, a partir de Braga. Após a pacificação, e ainda devido aos particulares interesses imperiais nas minas de ouro na Gallaecia, o Noroeste e com ele a zona da Maia, é incorporado na província da Terraconense.
Pausa do historiador ciclista solitario
A cidade de Braga é equiparada a colónia, recebe o epíteto de augusta e torna-se cabeça de um conventus, o bracaraugustanus, em que se abrangem as Terras da Maia.
Esta divisão, o conventus, tem sobretudo importância jurídica e militar.”
De regresso a Pedrouços - Maia
O facto de trazer aqui, e aqui registar no meu blog, este apontamento, entre outros já postados também sobre a história dos povos do passado, prende-se com este gosto, entusiasmo e curiosidade que que o assunto em mim desperta. Por essa razão, tenho inclusive elaborado poesia descritiva sobre determinados locais romanizados, como pontes, castros, citânias, calçadas e marcos miliares, e as fotos condizentes. 

         CITANIA DE SANFINS

José Faria na Citânia de Sanfins de Ferreira

A Citânia de Sanfins fui visitar,
E levei mais que um objetivo,
O primeiro de contribuir, a divulgar,
O segundo, por um treino desportivo.

Lidador da Maia
De bicicleta, desde a Maia a pedalar,
Foi meu gesto primeiro, imperativo;
Para aí a história versejar,
Do que foi esse tempo primitivo.

É dever do saber atualmente,
Conhecermos as origens do passado.
Sobre as vidas do povo ascendente;

No futuro estará o meu legado,
Que desejo seja respeitado;
Como o faço hoje no presente,

Esse partir à descoberta e pesquisa de vestígios dos nossos antepassados, são, na maioria das vezes, razão, motivo e pretexto para o passeio desportivo e ciclístico, pela saúde e bem-estar físico e intelectual.
José Faria

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

OS MEUS "ATALHOS"


ATALHOS
 Parque dos amores em Pedrouços - Maia
NOVO ATALHO
 






















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Como prefácio ao meu segundo livro de poesiaa que dei nome de ATALHOS,escrevi assim:
Vem de longe esta tendência e predisposição de versejar. 

Ainda criança e a frequentar a escola primária, já elaborava uma ou outra quadra, fazendo referência a datas festivas e tradicionais, como o Natal, São João, São Martinho, Carnaval, Páscoa, e de outros momentos festivos.
Como cronista e redator de um jornal local, (Jornal da Maia) divulgava situações do dia-a-dia das populações, incluindo na forma versejada, para promover e enaltecer eventos culturais e religiosos e outras vivências sociais e culturais da comunidade.
Nessa crescente dedicação à poesia, passando pela participação, coordenação e declamação em muitas tertúlias, publiquei conjuntamente com outros poetas, em coletâneas na Maia, Porto e em Matosinhos.
NOVO ATALHO

Na véspera de todos as flores,
E naquele domingo de ramos;
Há letras de todas as cores,
Aos molhos que fraseamos.

Seguem em corredores,
As letras que ordenamos;
Os versos ganham valores,
Como lemos e falamos.

É a Primavera de amores,
E da paz que celebramos,
Da existência renovada;

Á vida damos louvores,
Nos poemas que rimamos,
Por atalhos versejada.

Em 2006 publico o meu primeiro livro “Contos e Versos do Meu Caminho”, editado pela Papiro Editora, onde está presente e subjacente o texto explicativo à história de cada poesia, situando-a no tempo e no espaço.
Motivadores, e de constante criação poética, os encontros e convívios culturais de poesia, que apresentavam sempre um novo tema em cada sessão, reforçaram ainda mais a “fabricação” de poemas e mais poemas. Essa entrega, participação e colaboração, viriam a reforçar o hábito de quase diariamente construir poesia e quadras de mensagem, pensamentos ou de divulgação de casos pontuais.
É nessa entrega de gosto e dedicação que vai crescendo sempre o volume de poesia em sonetos e quadras soltas e livres, testemunho da minha vivência, ocupação e pensamento. Quadras soltas e livres que vão servindo de mote à conclusão de novas mensagens poéticas, onde se misturam os vários géneros literários.
Por este constante versejar e “fabricar de “poesia; e porque qualquer obra só o é quando do conhecimento do público, entendi publicar “ATALHOS”, porque o caminho da vida é feito de muitos pequenos caminhos e… atalhos. 
José Luís Silva Faria

OS CONTOS E VERSOS DO MEU CAMINHO



O meu primeiro trabalho literário, depois de um pequeno ensaio a que dei nome de “Beirões”, intitulei-o de “CONTOS E VERSOS DO MEU CAMINHO”, porque, na realidade ele é composto de pequenos contos, estórias e de acontecimentos, que estão na base da poesia que esse livro comporta.
E fugir à regra foi também a razão que me levou a publicar este livro, contrariando o que o público leitor está habituado a encontrar em livros de poesia.
Logicamente que a grandeza poética e literária reside na arte de permitir que os leitores possa por eles, descobrir o tempo, o espaço e a imagem na mensagem de prosa ou poética de acordo com as suas capacidades culturais. E assim sendo, aquilo que um determinado leitor entendeu, compreendeu, viu e sentiu, não tem que ser exatamente a mesma coisa para outro leitor, embora sendo a mesma obra. Cada pessoa é um mundo que vê o mundo à sua maneira.
E foi quase brincando com essa lógica realidade, que é regra natural do entendimento humano, que decidi compilar esta minha poesia com textos descritivos de suporte que antecedem a mensagem poética, pois muita relaciona-se com locais e acontecimentos e contos de um determinado lugar, neste caso, de Pedrouços do concelho da Maia.

A CEIA DE NATAL ONTEM E HOJE


A CEIA DE NATAL NO MINHO
(de Ramalho Ortigão)

Depois celebrava-se a ceia, o mais solene banquete da família minhota. Tinham vindo os filhos, as noras, os genros, os netos. Punha-se a toalha grande, os talheres de cerimónia, os copos de pé, as velhas garrafas douradas. Acendiam-se mais luzes nos castiçais de prata. As criadas, de roupinhas novas, iam e vinham ativamente com as rimas de pratos, contando os talheres, partindo o pão, colocando a fruta, desrolhando as garrafas.
Os que tinham chegado de longe, nessa noite, davam abraços, recebiam beijos, pediam novidades, contando histórias, acidentes e aventuras de viagem; - os caminhos estavam uns barrocais medonhos… E falavam da saraivada, da neve, do frio da noite, esfregando as mãos de satisfação por se acharem enxutos, agasalhados, confortados, quentes, na expectativa de uma boa ceia, sentados no velho canapé da família.
E o nordeste assobiava pelas fisgas das janelas; ouvia-se ao longe bramir o mar ou zoar a carvalheira, enquanto da cozinha, onde ardia no lar a grande fogueira, chegava, num respiro tépido, o aroma do vinho quente fervido com mel, com passas de Alicante e com canela.
Finalmente, o bacalhau guisado dava a última fervura; as frituras de abóbora-menina, as rabanadas, as orelhas-de-abade tinham saído da frigideira e acabavam de ser empilhadas em pirâmide nas travessas grandes. Uma voz dizia: - Para a mesa! Para a mesa! (…/…)
Assim narrou Ramalhos Ortigão em “As Farpas, Vol. 1, do Livro de Leitura do ensino liceal, aprovado oficialmente como livro único em 24/VI/1950, organizado por José Pereira Tavares.

Os tempos mudaram e com o avanço quase descontrolado das tecnologias, continuam a mudar de forma muito acelerada o comportamento humano, individual e coletivamente.
Estes usos, costumes e tradições baseados religiosamente, culturalmente e socialmente, como pilares das comunidades, e sobretudo das famílias, vão se transformado em simples acontecimentos de festa, desprendidos de razões e dos motivos que lhe estão na origem.
Neste século 21, já com 20 de idade, muito já se perdeu sobre o fundamento, a organização e a razão da reunião da família na Ceia de Natal em que se comemora (para os cristãos) o nascimento de Cristo.
E, onde ela ainda se manifesta, há um elevado desprendimento da sua comemorativa e festiva finalidade. Já não se contam histórias, e em muitos lares o relacionamento não passa de simples expressões. Todos juntos mas cada um no seu mundo.
Ligados ao mundo e desprendidos da família, mesmo na ceia de Natal, o telemóvel é quem recebe todas as atenções, mais que o menino Jesus. E se o pai Natal merece algum respeito, é graças a alguma ansiedade ou egoísmo no momento de distribuição de prendas, depois da ceia.

Casos há, onde se inverte o local da ceia, que não recebe filhos, genros, noras e netos, mas que recebe pais e avós. E estes, pela sua idade mais à frente, por já contarem com um passado distante, que muitas vezes são postos de lado das conversas entre os mais novos, que de quando em quando se socorrem do telemóvel para terem tema de conversa, com e sobre o exterior. A ascendência descontextualizada do presente dos mais novos, nem com a distração de programas de televisão se ocupa. Apesar de tão ricos nesta altura.
O que passa na TV é o que os mais novos gostam de ver que se vê, mesmo que não passem de programas sem qualquer valor, e até impróprios para o acontecimento natalício... e mesmo sem lhes prestar atenção, sempre com os olhos sobre os telemóveis.
Numa Ceia assim, houvessem ascendentes que tivessem a ousadia de recordar a narração de Natal de Ramalho Ortigão, para compor o momento e a razão da reunião e ceia, e os cultos jovens do presente, de telemóvel na mão, rir-se-iam de forma trocista, não ligariam nenhuma ou mandariam calar a ascendência.
E se a ascendência convidada para a ceia de Natal, ousar pedir para mudar de canal televisivo, responder-lhe-ão: - “quem não quer ver, tem bom remédio”.
A união da família, enquanto orientação e pilar da comunidade humana, evidenciada com toda a clareza por Ramalho Ortigão, vai se desmoronando na insensibilidade das atitudes e palavras de comunicação tão desprendidas entre os elementos que se sentam à mesa da Ceia de Natal, e no desligamento que as novas tecnologias proporcionam, de grande e vasta comunicação com o mundo, ressecção e envio de mensagens até para o outro lado do mar ou das montanhas, mas ignorando-se a ascendência sentada a seu lado.
José Faria

sábado, 4 de janeiro de 2020

O LUIS ADORMECEU NO MONTE



Tempos houve muito lá atrás da revolução de Abril de 1974, em que era muito difícil aos portugueses emigrarem, sem passaporte e sem razões que o estado o justificasse.
Assim, no tempo do regime político de ditadura fascista, para fugirem à fome, ao desemprego e ao cumprimento obrigatório do serviço militar com guerra no ultramar, muitos jovens emigravam, a salto. Muitos eram presos e considerados refratários. Nalguns casos ainda ajustavam contas com a Polícia de Intervenção em Defesa do Estado /DGS, e saiam bem magoados e marcados, quando saiam. (!?)
Davam o salto para Espanha e daí para França, Canadá, Alemanha, Brasil e outros países.
Haviam portugueses que se dedicavam a “passadores”, do género dos que hoje fazem o mesmo com os refugiados abandonados à sua sorte em embarcações.
Muitos foram os grupos, que a troco de uma determinada quantia de pagamento aos “passadores”, atravessaram montes e vales até Valença, onde, atentos e a coberto da noite, esperavam o render da guarda da fronteira, para darem o salto para o outro lado de Espanha.
Normalmente aguentavam horas encurralados a aguardar o momento mais preciso, de distração da guarda, para avançarem sem serem vistos. Por vezes atravessando o rio Minho nos sítios de menor profundidade.
Por lá andou também o Manel “pisco” na construção civil em terras de França, que viria a adoecer gravemente e que, sem meios, ainda conseguiu dar o “salto” de regresso para vir morrer a casa.
Menos sorte teve o Zé “greta”, que no barraco da obra em construção, adormeceu uma noite para nunca mais acordar, devido ao fogareiro que lhe aquecia a noite fria e lhe roubou a vida. Por lá ficou.
Numa dessas passagens a “salto”, o passador Luís levou mais um grupo, entre eles o seu irmão e o sobrinho. Já passavam das quatro da madrugada quando chegaram ao ponto de vigia para controlar a movimentação na fronteira. O luar estava claro, obrigando o grupo cansado e com sono, a ficar quase duas horas agachado no monte entre arbustos, de olhos postos no movimento dos carabineiros na fronteira e ponte sobre o rio Minho.
Por volta das seis da manhã, no render da guarda o Luís, diz ao grupo para avançar e o seguir, sem barulho.
Como coelhos temerosos, evitando a luz da lua, lá foram sorrateiros e conseguiram chegar ao lado de lá. 
“ Pronto, estamos em Espanha! Estão todos!? – e deitou os olhos ao grupo.
- O meu sobrinho, o José!?
Todos se entreolharam. Ninguém se apercebera se ele os tinha acompanhado ou não.
- Não me digas que ele adormeceu no monte!? – Exclamou o Luís.
Não podemos fazer nada, não podemos ir para trás, é muito arriscado.
Ainda esperaram algum tempo a ver se ele aparecia, mas tiveram que seguir caminho.
Na verdade, o José, moço dos seus 20 anos, cansado e ensonado adormeceu e ficou só no monte.
Só dois dias depois, quando o seu tio regressou a casa a Santo Tirso, se encontrou com o José, que lhe confirmou que tinha adormecido e que acordara só a meio da manhã.
Valeu-lhe a sorte de descendo à estrada, conseguir uma boleia de um camionista que o deixou a poucos quilómetros de casa.
Contos de José Faria


quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

VIVA JANEIRO 2020


VIVA JANEIRO
DE BONANÇA PARA O ANO INTEIRO

E quando Janeiro chegar,
Reforça teu desejo e esperança;
Sê grato ao teu caminhar,
Trata a vida por bonança.
José Faria

Se não trabalhas a terra, lembra-te e respeita quem o faz, e dela extrai o nosso alimento, a nossa subsistência.
E porque é a altura de semear caroços de damascos, pêssegos, castanheiros, nogueiras. De enxertar árvores temporãs. Transpor bacelos. Preparar e adubar com estrumes as hortas e vinhas. Plantar estacas de oliveira, de salgueiro e de álamo. Semear favas e alhos. Visitar colmeias e pombais para os limpar, desinfetar e arejar. Cortar madeiras para duração aproveitando as podas durante o “sono e descanso” das árvores. Limpar os trigais de ervas daninhas e cardos… 

E muito há mais há a remexer nas terras para o cultivo que a levará à produzir o sustento da humanidade e de todas as vidas.
E porque todos os meses de Janeiro são muito “longos”, para muitos longo de mais, sobretudo a quem acaba o dinheiro ainda antes de Janeiro nascer, ou com poucos dias de vida:

- Ao luar de Janeiro se conta o dinheiro”,
- Trovão de Janeiro, nem bom pão, nem bom palheiro,
- Janeiro molhado, se não é bom para o pão, não é mau para o gado,
- Janeiro frio ou temperado, não deixa de ser enroupado,
- A pescada em Janeiro, vale um carneiro,
- Comer laranjas em Janeiro, é dar que fazer ao coveiro,
- Em Janeiro saltinho de carneiro,
- Em Janeiro sobe o outeiro, se vires verdejar, põe-te a chorar, se vires nevar, põe-te a cantar,
- Em Janeiro uma hora por inteiro, e quem bem olhar, hora e meia há-de achar,
- Em Janeiro cada ovelha com seu cordeiro,
- Em Janeiro nem galgo lebreiro, nem Açor perdigueiro,
- Em Janeiro sete capelos e um sombreiro,
- Em Janeiro, um porco ao sol e outro no fumeiro,
- Janeiro fora, cresce uma hora,
- Janeiro geoso e Fevereiro chuvoso, fazem o ano formoso,
- Janeiro molhado, se não cria o pão, cria o gado,
- Janeiro quente, traz o diabo no ventre,
- Janeiro tem uma hora por inteiro,
- Pintainho de Janeiro, vai com a mãe ao poleiro,
- Poda-me em Janeiro, empa-me (estacar) em Março e verás o que te faço,
- Quem em Janeiro lavrar, tem sete pães para o jantar,
- Se queres ser bom alheiro, planta alhos em Janeiro,
- Se queres um bom milheiro, faz o alqueire em Janeiro,
… possivelmente haverão muitos mais provérbios, pois sempre fomos muito bons e criá-los, por isso também eu, aqui e agora, para finalizar, vos deixo com este.
- TRAÇA BONS OBJETIVOS EM JANEIRO, QUE TE FAÇAM FELIZ O ANO INTEIRO.
Bom Ano de 2020