SE DEUS É A PRÓPRIA NATUREZA
POR QUE O HOMEM A DESTRÓI!?
LEITURA DE REFLEXÃO
Nos tempos passados, antes de os homens inventarem os seus “Deuses”, a vida
humana sentia-se desprotegido face às forças que se manifestam na natureza,
hoje julga dominá-las; no fundo. No fundo, o homem, dizendo respeitar Deus, destrói-o
diariamente: Assumiu para si próprio, o papel reservado a Deus: a ciência
manipula a vida, cria espécies novas, cura ou inflige doenças como se fosse o
próprio Deus.
-“O termo
"Deus" deriva do indo-europeu Diêus e significava "brilhar" ou
"dia". Diêus era o Deus superior dos povos indo-europeus, encontrando-se entre os
indianos o Dyaus, o deus do Céu. Na conceção tradicional e religiosa, Deus é aquele que organizou o mundo e que
o sustém. Pelo pensamento, ou por algo análogo ao que no homem é
pensamento, Deus trouxe o cosmos à existência. A inteligência que por
toda a criação se observa e a beleza patente na natureza são reflexos, são
"pegadas" - na linguagem de
Na conceção tradicional e religiosa, Deus é aquele que organizou o mundo e que
o sustém. Pelo pensamento, ou por algo análogo ao que no homem é
pensamento, Deus trouxe o cosmos à existência. A inteligência que por
toda a criação se observa e a beleza patente na natureza são reflexos, são
"pegadas" - na linguagem de São Boaventura (franciscano italiano do
século XIII) - de Deus. Para o
homem antigo era fácil ter uma conceção deste tipo porque a natureza ainda era
sinal de pureza. O homem moderno já dificilmente pode imaginar o que era esta
conceção, pois a natureza tornou-se sinal de produção, não é vista como algo de
divino, é apenas uma matéria, um recurso disponível para dela usufruir. Por
outro lado, o homem criou o mundo da ciência e da técnica que lhe dá a
confiança suficiente em si próprio para poder afirmar a "morte de
deus" (Nietzsche). Antes ele sentia-se
desprotegido face às forças que se manifestam na natureza, hoje julga
dominá-las; no fundo, assumiu para si próprio o papel reservado a Deus: a
ciência manipula a vida, cria espécies novas, cura ou inflige doenças como se
fosse o próprio Deus.
O homem antigo era espontaneamente religioso, era um homo religiosus. Para ele a natureza
era vivida como sagrada, como uma teofania. Por intermédio dela ele podia
desvendar os atributos de Deus. O homem primordial via no céu a manifestação da
transcendência, do eterno, do masculino, o pai de onde vem a chuva fecundadora
ou o bélico trovão; do mesmo modo via na terra a imanência, o tempo cíclico, o
feminino, a mãe que alimenta os seus filhos, os homens.
Este tipo de homem não vivia num politeísmo radical, com efeito aceitava
simultaneamente a presença de muitos deuses, sendo, todavia, um só de entre
eles o "pai dos deuses", o Deus supremo. É este facto que permite
reconhecer a unidade que subjaz à pluralidade dos deuses. Tratava-se, portanto,
de um monoteísmo politeísta. Entre os Maori o Deus supremo é
Este tipo de homem não vivia num politeísmo radical, com efeito aceitava
simultaneamente a presença de muitos deuses, sendo, todavia, um só de entre
eles o "pai dos deuses", o Deus supremo. É este facto que permite
reconhecer a unidade que subjaz à pluralidade dos deuses. Tratava-se, portanto,
de um monoteísmo politeísta. Entre os Maori o Deus supremo é Iho, entre os Koyaks é o
"Senhor do Alto", para os Ainous é o "Criador divino dos
mundos".
Todas as religiões que têm como fundamento Deus, acentuam, cada uma à sua
maneira, um ponto particular da conceção que fazem da divindade.
O Judaísmo traz uma novidade relativamente à conceção de Deus, é talvez a
primeira religião a acentuar de modo tão radical o monoteísmo, depois seguido
pelo
Todas as religiões que têm como fundamento Deus, acentuam, cada uma à sua
maneira, um ponto particular da conceção que fazem da divindade.
O Judaísmo traz uma novidade relativamente à conceção de Deus, é talvez a
primeira religião a acentuar de modo tão radical o monoteísmo, depois seguido
pelo Cristianismo e pelo Islamismo. Todas as divindades são
rejeitadas, o único Deus é Jeová. A história do Antigo Testamento é, no fundo, de algum modo a
história da vitória de Jeová sobre os outros
deuses, tendo escolhido como o seu paladino o povo hebreu. No Deuteronómio diz-se
por exemplo que "Não há nada além d'Ele"; no Êxodo afirma-se:
"Não terás outros deuses diante de Mim". A mesma radicalidade aparece
no Islamismo: "Não há outra divindade senão Deus e Maomé é o
seu Profeta". O Taoísmo define Deus na sua transcendência e na sua imanência, é o que chamam,
respetivamente,
O Taoísmo define Deus na sua transcendência e na sua imanência, é o que chamam,
respetivamente, tao e tê, o princípio e a sua ação; o livro base do taoísmo chama-se
precisamente Tao-Tê Ching, quer dizer, o Livro (Ching) do Princípio (Tao) e da sua Ação (Tê).
A transcendência do
princípio divino é logo afirmada no primeiro capítulo deste livro:
"O Tao a que se pode atribuir um nome/não
é o Tao eterno/O nome que se pode pronunciar/não é o nome eterno". O Tao é
mistério, é insondável, está acima do mal e do bem, do belo e do feio. Neste
ponto difere das conceções religiosas do Cristianismo ou do Islamismo por exemplo, para quem Deus é bondade e beleza. As religiões ocidentais, na sequência das religiões cósmicas dos homens
primordiais, olham para o mundo como uma criação de Deus. A beleza e a bondade
de Deus, que se manifestam na natureza, são sobretudo acentuadas pelo
As religiões ocidentais, na sequência das religiões cósmicas dos homens
primordiais, olham para o mundo como uma criação de Deus. A beleza e a bondade
de Deus, que se manifestam na natureza, são sobretudo acentuadas pelo Cristianismo e pelo Islamismo. No Cristianismo isso é
patente de forma nítida no movimento franciscano e no Cântico do Irmão Sol ou Cântico das Criaturas de São Francisco à
"irmã" criação, louvando o Sol, a Lua e as estrelas, o vento, a água, o fogo, a mãe terra e até a
"irmã morte". No Islamismo
evidencia-se a mesma atitude em frases corânicas como: "Para onde quer que
te voltes, aí está a Face de Deus" (Surata da Vaca). A introdução do
Corão, a Surata de Abertura, é bem esclarecedora quanto aos atributos da
divindade: "Em nome de Deus, Clemente e Misericordioso!/Louvado seja Deus,
Senhor dos Mundos,/Clemente e Misericordioso,/Senhor do Dia do Julgamento!/A
Ti, somente, adoramos; de Ti, somente, esperamos proteção!"
Na Surata do Fumo diz-se ainda:
"Não foi por acaso que Nós criámos os céus, a Terra e o que está entre
eles./Criámo-los com verdade, mas a maioria dos homens não o sabe."
Ou na Surata dos Ventos
Dispersantes: "Há sobre a Terra e em vós sinais para aqueles que creem
firmemente." Na Surata dos Filhos de Israel diz-se que
"Os sete céus, a Terra e tudo o que neles se encontra celebra os Seus
feitos; não há nada que não celebre os Seus feitos". A criação é,
portanto, um ato de louvor contínuo das criaturas ao Criador.
O Cristianismo acentua a bondade de Deus que dá o seu próprio filho, que se dá
a si próprio para redimir a humanidade; não podia haver gesto mais bondoso e misericordioso
do que o de se dar a si próprio pelos homens.
Deus é o conceito supremo de quase todas as religiões (o
O Cristianismo acentua a bondade de Deus que dá o seu próprio filho, que se dá
a si próprio para redimir a humanidade; não podia haver gesto mais bondoso e misericordioso
do que o de se dar a si próprio pelos homens.
Deus é o conceito supremo de quase todas as religiões (o Budismo, por exemplo, não segue o mesmo preceito religioso),
é o seu ponto de partida e de chegada, ainda que cada uma acentue uma qualidade
ou atributo particulares.
O misticismo afirma a possibilidade de conhecer Deus diretamente; o místico
anseia por tal. A história do misticismo, de ocidente a oriente, abunda de
relatos desse tipo.”
O misticismo afirma a possibilidade de conhecer Deus diretamente; o místico
anseia por tal. A história do misticismo, de ocidente a oriente, abunda de
relatos desse tipo.”