CURTA RETROSPETIVA SOBRE A REGIÃO DE PEDROUÇOS
Pedrouços foi lugar da freguesia e Vila de Águas
Santas até 9 de julho de 1985, altura em que passou a ser uma nova região
administrativa do concelho da Maia. – Há 39 anos!
INTRODUÇÃO HISTÓRICA
Em termos históricos e comerciais, Pedrouços foi lugar
de intenso trabalho agrícola, e terá sido chamado de “cidade de Petrauços ou
Pedrouos”, devido à sua grande importância detendo 19 casais, logo a seguir ao
lugar de Ardegães que detinha 21.
Pedrouços limita-se a norte com a freguesia de Águas
Santas, Maia; a nascente com Rio Tinto, Gondomar; a poente com a de São Mamede
de Infesta, do concelho de Matosinhos, a sul com Paranhos do concelho do Porto,
e fica aproximadamente a 9 km do centro do concelho
Pedrouços tem como seu orago Nossa Senhora da
Natividade, criado a 8 de setembro 1928, dois anos depois de grandes obras de
restauro e de ampliação da igreja, obras iniciadas no mês de setembro, 1926,
precisamente no mês em que se deu um violento incêndio que destruiu por
completo o Campo de Tourada da Areosa, nos terrenos laterais à rua D. Afonso
Henriques, próximo do mercado feira de Pedrouços, onde é hoje o Supermercado
Continente.
E foi dois anos depois que, em setembro de 1928, este
lugar foi elevado a Freguesia Eclesiástica, pelo primeiro círculo do Porto.
A abóbada da igreja, de estuque, maravilhosamente rica
em afrescos religiosos, pinturas de santos e anjos que decoravam o teto da
igreja, devido à infiltração da chuva, foram-se degradando, apodrecendo toda
essa riqueza histórica e artística de gessos e estafes estruturais, pelo que
novas obras de recuperação se retomaram para a remoção e substituição do teto.
Todos os anos, a festa religiosa e profana, de romaria
e grande procissão em honra da padroeira, durante muitos anos de 17 andores,
presentemente já ultrapassam os 20.
Esta manifestação religiosa, acontece na primeira
semana de setembro, festividade que procura “abraçar” sempre o dia 8, dia da
sua elevação a freguesia eclesiástica e criação do Orago, como o dia mais
importante das celebrações festivas.
Consta que no passado distante, muito antes da criação
do orago, de Nossa Senhora da Natividade, em setembro de 1928, no planalto onde
atualmente se encontra a igreja paroquial, existiu uma ermida dedicada a São
Pedro, como refere o padre Joaquim Antunes de Azevedo, no livro em “Actas ao
Congresso – Maia, História Regional e Local, pág. 40, numa narrativa do
historiador maiado, Dr. José Marques, e que a data na padieira da porta principal da
igreja, corresponderá à data da construção dessa capelinha que então existia na
ermida.
Uma grande escadaria de granito, a partir da rua
António Feliciano de Castilho, com dois lanços e de largura aproximadamente, de
quatro metros e murada lanço a lanço à direita, até ao adro da ermida, e depois
adro da igreja, levava-nos a ver e admirar dois coretos, de construção a
argamassa de areia e cimento, a imitar troncos de sobreiro.
Um à esquerda da entrada no adro pelo lado sul, e
outro à esquerda ao cimo dessa histórica escadaria, sombreados um e outro por
frondosas árvores de tília.
À muito desapareceu essa fragância natural que
envolvia do o adro da igreja.
Esta escadaria foi derrubada para dar lugar à
construção de aposentos de apoio às atividades sociais, culturais e religiosas
do santuário e à casa de habitação do pároco, os coretos também desapareceram
há muitos anos, e as árvores de tília foram a seguir.
Voltando à história e fragmentos das suas raízes,
recordemos que o topónimo “Pedrouços” deriva do português antigo “pedrouço”,
que tem o significado de monte de pedras.
O seu topónimo atesta a longinquidade deste tão
povoado lugar, com as distantes raízes da povoação de Pedrouços a confirmar até
pela existência de uma capela de propriedade privada, dedicada ao Senhor dos
Aflitos, que se enquadra na lenda de Pedrouços, contada por Avelimo Moura Lopes,
história transcrita e muito divulgada, até em poesia, pelo pedroucense José
Faria, no extinto “Jornal da Maia”, nos seus livros “Contos e Versos do Meu
Caminho” em “Lendas da Maia por freguesias”, e nas redes sociais.
No interior dessa velhinha capela, uma cruz de pedra
com o desenho de Cristo e uma cobra que o envolve, recorda essa lenda.
A capela, possivelmente construída por volta de 1440,
encostada no sopé do monte onde no seu planalto era a ermida dedicada a S.
Pedro, e hoje a igreja de Nossa Senhora da Natividade; situa-se na rua António
Feliciano de Castilho, virada para a rua Luís de Camões, a rua mais medieval da
freguesia de Pedrouços, onde são bem visíveis caraterísticas de um tempo
medieval, e até romano, pelas grandes lajes de granito polidas pelo uso
constante, durante séculos! de passagem pessoas, animais e carros de bois.
Hoje, o calcetamento a paralelo esconde esse tempo
medieval, por onde, à direita da calçada de grandes pedras, (escondidas),
encostada às paredes do casario de lavoura, corria uma boa linha de água, vinda
da “aldeia de cima”, que saía por debaixo da rua António Feliciano de Castilho,
em direção à vasta planície de cultivo de milho e centeio, da “aldeia de baixo”,
planície cortada a meio pelo ribeiro, que do alto da Areosa e depois de
atravessar a estrada da Circunvalação, corre de sul para norte ao encontro do
rio Leça no lugar de Parada, atravessando o lugar de Teibas e de Boi Morto.
Possivelmente, perderam-se do tempo e da memória,
outras manifestações religiosas desta terra de Pedrouços, como a de “levar a
Cruz ao Calvário”, pois a existência de cruzeiros a partir da capelinha
privada, ligada à lenda, que se encontram ainda na rua Luís de Camões, e no
largo Conde de Ferreira, e de outros que desapareceram, marcavam o percurso da
Via Sacra até ao cimo da rua do Calvário, onde existiu precisamente um
“Calvário” com três cruzeiros.
Tudo isto nos leva a concluir que ainda no tempo da
ermida a S. Pedro, terá havido a procissão religiosa, veneração de fé, de levar
o Senhor dos Aflitos, ou Senhor da Cruz, ao Calvário, desde a capela até ao
cimo da rua do Calvário, hoje com o nome de Trv. Plácido d’Abreu. (Mudança de
nome que apaga a raiz da história!?)
Mas outras referências toponímias, em Pedrouços, nos
recorda o seu tempo medieval e até vestígios romanizados, e da passagem de
outros povos, como é o caso da palavra “Cotamas” ou “Kutama”da “Quinta das
Cotamas”, que deriva do árabe (kutama), nome de tribo que passou a antropónimo,
sendo ainda usado no século X entre os moçárabes, são indicativos como
ocupantes mais antigos desta terra.
Também a Casa do Alto, cheia de história e “raízes
escondidas”, terá sido designada de “Mansão da Colina da Quinta das Kutamas”
A origem deste lugar de Pedrouços que passou a
freguesia em 1985, há muito se perdeu da memória por falta de registos e provas
físicas e documentais, dos primeiros habitantes tão próximos do rio Leça, do
rio Douro e do mar de Matosinhos. Ao longo do tempo se foram perdendo esses
vestígios, onde terão existido edificações castrejas e pré-romanas, dos
princípios do século I a.C.
Uma região, tão próxima da via romana que passava em
Paranhos, Quinta de Lamas, vindo de calem, da margem esquerda do rio Douro,
Vila Nova de Gaia, em direção a Bracaraugusta, terá sido passagem de romanos,
suevos, visigodos e árabes.
O livro sobre a “ROMANIZAÇÃO DAS TERRAS DA MAIA”, de
Carlos Alberto Ferreira de Almeida, de 1969, mostram-nos isso mesmo.
José Faria