A LENDA DA GUADALUPE
A história sobre as razões da construção do templo à Senhora
da Guadalupe, assenta num facto invulgar, que tem como autor, um homem simples,
maiato, residente no lugar do Paço, da freguesia de Águas Santas, do concelho
da Maia.
A história começa por volta de 1720 e 1740, quando João (nome
fictício) foi acusado de um crime de morte que não cometera. Receando pela perda de liberdade e pela sua vida, fugiu para
Espanha, tendo-se refugiado junto do Mosteiro da Guadalupe, numa das margens do
rio Guadalupe. Por lá ficou e quase vegetou durante alguns meses.
O crime ainda não havia sido esquecido em toda a Maia, mas já
se sabia que ele estaria inocento, e que teria sido outro o autor desse crime
de morte.
Junto ao rio e ao santuário da Guadalupe, onde se recolhera, o
aguasantense, ansioso por voltar à sua terra, prometeu a Nossa Senhora de
Guadalupe que, se um dia pudesse regressar ilibado do crime de que era inocente,
mandaria erguer uma ermida em honra da Santa.
Como tal se verificou, vindo a ser
identificado e preso o verdadeiro autor do crime, o maiato regressou ao lugar do Paço,
onde logo começou a reunir todas as condições para cumprir a promessa,
construindo a ermida, com a capela em honra de Nossa Senhora da Guadalupe, cuja
imagem criada por um santeiro, com o menino num braço e o bastão no outro, igual à do Mosteiro da Guadalupe de Espanha, ocupa o altar.
Ora, tem sido meu
cuidado complementar estas lendas que na Maia vou encontrando, com quadras
descritivas de cariz popular.
Assim, porque o número sete é o número sagrado e
mágico que rege os mistérios ocultos, as cerimónias religiosas e também a
clarividência, descrevo a LENDA DA SENHORA DA GUADALUPE, do lugar do Paço, da
freguesia e vila de Águas Santas do concelho da Maia, com estas
7 quadras, para
culturalmente enriquecer esta bonita lenda.
PROMESSA A GUADALUPE
No século
dezoito, no lugar do Paço,
Em Águas Santas,
terra maiata;
Uma agitação de
estardalhaço,
Estremeceu o
povo, gente pacata.
--
Um homem
humilde, um trabalhador,
Fora acusado de
um crime de morte,
A sofrer de
medo, mágoa e dor,
Fugiu do país, dessa
má sorte.
--
Pois de nada
sabia o pobre coitado,
Do que era
acusado, tão inocente;
Fugiu para Espanha,
viu-se obrigado,
P’ra não ser
linchado pela sua gente.
--
Este homem
humilde por lá andou,
A deambular e a
passar fome;
Junto a
Guadalupe se refugiou,
Ao pé do rio com
o mesmo nome.
--
Por fim conseguiu
o seu sustento,
Vivendo
angústia, saudade e cansaço;
Com a sua terra
no pensamento,
Ansiava voltar
ao lugar do Paço.--
Prometeu um dia
à Santa Senhora,
A Guadalupe com
fé e amor;
Se fosse
ilibado, pudesse ir embora,
Faria uma ermida
em seu louvor.
--
Foi descoberto
do crime o autor,
E o homem do Paço
logo se apressa;
Corre para Águas
Santas todo feitor
Onde cumpriu a
sua promessa.
José Faria – 17/11/2020