EM SÃO MIGUEL O ANJO

terça-feira, 27 de abril de 2021

O CULTO DA INCOMPETÊNCIA

DESPERTAR

- Mantém-se em voga todo o legado,
- Nas comunidades, nada de novo;
- Em todos os governos e formas de estado,
- De soberano somente o povo.

 

- Princípios dos regimes de governação

“Como cada forma de governo deve ter um princípio, uma ideia geral que o inspire, tem sido constante objeto de curiosidade o determinar-se qual o regime que corresponde a cada um dos diversos governos que vão tomando ou ocupando o poder da governação.
Já Montesquieu dizia, por exemplo, que o princípio da monarquia é a honra, o do despotismo (governo absoluto e de prepotência), o terror e o da república a virtude, ou seja, o patriotismo, mas lembrando que os governos declinam e caem pelo excesso ou abandono do princípio em que se baseiam.

Semelhante asserção, embora paradoxal, é verdadeira. De facto, à primeira vista, não se compreende como o despotismo pode cair por inspirar terror excessivo, a monarquia moderada por desenvolver excessivamente o sentimento da honra, e a república por um aumento de virtude, e, contudo, repetimos, nada há mais conformidade que esta verdade.
O abuso do terror traz o esgotamento deste, pois quando se quiser lançar mão do terror, é necessário ter-se a certeza de que poderá ser sempre empregado.
Por outro lado, a honra nunca é demais; mas sempre que apenas se apela para esse sentimento e se multiplicam as dignidades, as distinções, os penachos, os galões, as honrarias… como estas não podem aumentar indefinidamente, suscitam a hostilidade dos que as não possuem e dos que, fruindo-as, nunca se consideram, todavia, suficientemente galardoados.  

Por isso, é fora de dúvida que a virtude e, especialmente, o patriotismo, por maiores que sejam, nunca são prolixos, sendo a queda dos governos, neste caso, devida mais ao abandono do que ao excesso do seu princípio basilar.
Apesar disso, quando se exige de um país excessiva dedicação, acaba-se por ultrapassar as forças humanas e estancar as mais pródigas virtudes.
Foi o que aconteceu exatamente com Napoleão, que porventura involuntariamente, teve exigências excessivas para a construção da França maior e mais grandiosa.
Apesar do governo de Napoleão ser uma república, pecou pelo excesso de sacrifícios exigidos aos cidadãos em prol da pátria, pois era mais uma república análoga à romana e à francesa de 1792. O seu lema era: “Tudo pela glória do país” e “heroísmo sempre e através de tudo”.
Por isso, a virtude cívica exigida excessivamente, acaba por se esgotar.
E é assim que os governos se arruínam pelo excesso como pelo abandono dos seus princípios fundamentais.” (…/…)

DESPERTAR - Parte 2

- Mantém-se em voga todo o legado,
- Nas comunidades, nada de novo;
- Em todos os governos e formas de estado,
- De soberano é somente o povo.
 
“Disse um dia Aristóteles a Montesquieu que “Os que creem ter encontrado a base de um governo, levam ao extremo as consequências do princípio que estabeleceram, ignorando que, embora o nariz, afastando-se um pouco da sua linha reta, de todas a mais bela, se transforme em aquilino ou arrebitado, conserva ainda parte da sua beleza; mas que, se o afastamento for excessivo, esta parte componente da pessoa perderá as suas justas proporções, podendo até dar-se o caso, de o nariz deixar de o ser.”
Esta comparação aristotélica aplica-se com muita propriedade a todos os governos.
Partindo destas ideias gerais, muitas vezes perguntamos a nós mesmos qual seria o princípio dos democratas no relativo ao seu governo interno, e não tivemos necessidade de empregar grandes esforços para percebermos que esse princípio era o culto da incompetência. (…/…)”

(Fragmentos de “O culto da Incompetência” de Émile Faguet, 1919.)
Por José Faria

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