EM SÃO MIGUEL O ANJO

sábado, 8 de julho de 2023

PEDROUÇOS - MAIA - Retrospetiva por José Faria

CURTA RETROSPETIVA DE PEDROUÇOS

 PARABÉNS PEDROUÇOS

Pedrouços foi lugar da freguesia e Vila de Águas Santas até 9 de julho de 1985, altura em que passou a ser uma nova região administrativa do concelho da Maia. – Há 38 anos!

INTRODUÇÃO HISTÓRICA

Em termos históricos e comerciais, Pedrouços foi lugar de intenso trabalho agrícola, e terá sido chamado de “cidade de Petrauços ou Pedrouço”, devido à sua grande importância agrícola, com 19 casais, logo a seguir ao lugar de Ardegães que detinha 21.

Pedrouços limita-se a norte com a freguesia de Águas Santas, Maia; a nascente com Rio Tinto, Gondomar; a poente com a de São Mamede de Infesta, do concelho de Matosinhos, a sul com Paranhos do concelho do Porto, e fica aproximadamente a 9 km do centro do concelho

Pedrouços tem como seu orago  Nossa Senhora da Natividade, criado a 8 de setembro 1928, dois anos depois de grandes obras de restauro e de ampliação da igreja, obras iniciadas no mês de setembro, 1926,  precisamente no mês em que se deu um violento incêndio que destruiu por completo o Campo de Tourada da Areosa, nos terrenos laterais à rua D. Afonso Henriques, próximo do mercado feira de Pedrouços. E foi dois anos depois que, em setembro de 1928, que este lugar foi elevado a Freguesia Eclesiástica, pelo círculo do Porto.


A abóbada da igreja, de estuque, maravilhosamente rica em afrescos religiosos, pinturas de santos e anjos que decoravam o teto da igreja, devido à infiltração da chuva, a partir do telhado, apodreceu toda essa riqueza histórica e artística de gessos e estafes estruturais, pelo que novas obras de recuperação se retomaram para a remoção e substituição do teto.

Todos os anos, a festa religiosa e profana, de romaria e de grande procissão em honra da padroeira, que passou de 17 para 21 andores, acontece na primeira semana de setembro, festividade que procura “abraçar” sempre o dia 8, dia da sua elevação a freguesia eclesiástica e criação do Orago, como o dia mais importante das celebrações festivas.


Consta que no passado distante, muito antes da criação do orago, de Nossa Senhora da Natividade, em setembro de 1928, no planalto onde atualmente se encontra a igreja paroquial, foi uma ermida dedicada a São Pedro, como refere o padre Joaquim Antunes de Azevedo, no livro em “Actas ao Congresso – Maia, História Regional e Local, pág. 40, em narrativa do historiador maiato José Marques, A data 1743, na padieira da porta principal da igreja, deverá corresponder à data da construção dessa capelinha que então existia na ermida.


Uma grande escadaria de granito, a partir da rua


António Feliciano de Castilho, com dois lanços, de largura aproximadamente de quatro metros e murada lanço a lanço até ao adro da ermida, e depois adro da igreja, levava-nos a ver e admirar dois coretos, de construção a argamassa de areia e cimento, a imitar troncos de sobreiro. Um à esquerda da entrada no adro pelo lado sul, e outro à esquerda ao cimo dessa histórica escadaria, sombreados um e outro por frondosas árvores de tília.

Esta escadaria foi derrubada para dar lugar à construção de aposentos de apoio às atividades sociais, culturais e religiosas do santuário e à casa de habitação do pároco, os coretos também desapareceram há muitos anos, e as árvores de tília foram a seguir.

Voltando à história e fragmentos das suas raízes, recordemos que o topónimo “Pedrouços” deriva do português antigo “pedrouço”, que tem o significado de monte de pedras.

O seu topónimo atesta a longinquidade deste tão povoado lugar, com as distantes raízes da povoação de Pedrouços a confirmar até pela existência de uma capela de propriedade privada, dedicada ao Senhor dos Aflitos, e que se enquadra na lenda de Pedrouços, contada por Avelimo Moura Lopes e escritas e divulgadas pelo pedroucense José Faria, no seu livro “Lendas da Maia por freguesias”.

No interior da capela, uma cruz de pedra com o desenho de Cristo e uma cobra que o envolve, recorda essa lenda.

A capela, possivelmente construída por volta de 1440, encostada no sopé do monte onde no seu planalto era a ermida dedicada a S. Pedro, e hoje a igreja de Nossa Senhora da Natividade; situa-se na rua António Feliciano de Castilho, virada para a rua Luís de Camões, a rua mais medieval da freguesia de Pedrouços, onde são bem visíveis caraterísticas de um tempo medieval, e até romano, pelas grandes lajes de granito polidas pelo uso constante, durante séculos! de passagem pessoas, animais e carros de bois.

Hoje, o calcetamento a paralelo esconde esse tempo medieval, por onde, à direita da calçada de grandes pedras, (escondidas), encostada às paredes do casario de lavoura, corria uma boa linha de água, vinda da “aldeia de cima”, que saía por debaixo da rua António Feliciano de Castilho, em direção à vasta planície de cultivo de milho e centeio, da aldeia de baixo, planície cortada a meio pelo ribeiro, que do alto da Areosa e depois de atravessar a estrada da Circunvalação, corre de sul para norte ao encontro do rio Leça no lugar de Parada, atravessando o lugar de Teibas e de Boi Morto.

Possivelmente, perderam-se do tempo e da memória, outras manifestações religiosas desta terra de Pedrouços, como a de “levar a Cruz ao Calvário”, pois a existência de cruzeiros a partir da capelinha privada, ligada à lenda, que se encontram ainda na rua Luís de Camões, e no largo Conde de Ferreira, e de outros que desapareceram, marcavam o percurso da Via Sacra até ao cimo da rua do Calvário, onde existiu precisamente um “Calvário” com três cruzeiros.

Tudo isto nos leva a concluir que ainda no tempo da ermida a S. Pedro, terá havido a procissão religiosa, veneração de fé, de levar o Senhor dos Aflitos, ou Senhor da Cruz, ao Calvário, desde a capela até ao cimo da rua do Calvário, hoje com o nome de Trv. Plácido d’Abreu. (Mudança de nome que apaga a raiz da nossa história!?)


 Mas outras referências toponímias, em Pedrouços, nos recorda o seu tempo medieval e até vestígios romanizados, e da passagem de outros povos, como é o caso da palavras  “Cotamas”, da “Quinta das Cotamas”,  que deriva do árabe (kutama), nome de tribo que passou a antropónimo, sendo ainda usado no século X entre os moçárabes, são indicativos como ocupantes mais antigos desta terra. Também a Casa do Alto, cheia de história e “raízes escondidas”, terá sido designada de “Mansão da Colina da Quinta das Kutamas”

A origem deste lugar de Pedrouços que passou a freguesia em 1985, há muito se perdeu da memória por falta de registos e provas físicas e documentais, dos primeiros habitantes tão próximos do rio Leça, do rio Douro e do mar de Matosinhos.  Ao longo do tempo se foram perdendo esses vestígios, onde terão existido edificações castrejas e pré-romanas, dos princípios do século I a.C. 

Uma região, tão próxima da via romana que passava em Paranhos, Quinta de Lamas, vindo de calem, da margem esquerda do rio Douro, Vila Nova de Gaia, em direção a Bracaraugusta, terá sido passagem de romanossuevosvisigodos e árabes.

O livro sobre a “ROMANIZAÇÃO DAS TERRAS DA MAIA”, de Carlos Alberto Ferreira de Almeida, de 1969, mostram-nos isso mesmo.

José Faria


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