RECORDAR
NO TEMPO E NA PAISAGEM
A
FREGUESIA DE PEDROUÇOS DO PASSADO.
É
sempre interessante, cultural, nobre e relevante, transmitirmos às novas
gerações, como era a sua terra e as suas gentes num passado da história
recente, que não vai muito além de sessenta ou setenta anos. De um tempo em que
nem o trator de lavrar a terra existia, pois só chegou a Portugal, por volta dos
anos oitenta. Até aí, toda a lavoura estava nas mãos dos homens, ajudados pela
força dos animais. Mas o desenvolvimento sempre acelerado, consegue ultrapassar
em meia centena de anos, quase uma eternidade. Depois a falta de imagens desse
tempo, obriga a nossa imaginação a ir até lá através das palavras e
testemunhos, para se procurar ver e compreender como se vivia no tempo da lousa,
da pena e da palmatória na escola, e dos calos do trabalho, tantas fezes
infantil; no campo, nas pedreiras, nas obras.
Vivia
este meu povo maiato maioritariamente do campo, das pedreiras, enquanto a
construção ia tomando conta da ocupação da maioria dos trabalhadores por conta
de outrem, num tempo em que a emigração a salto, a fugir à fome e à guerra no
Ultramar, foi aumentando também.
Olhemos
para o que foi e para o que era, Pedrouços, lugar da freguesia e Vila de Águas
Santas, de onde se desintegrou em 1985, para se tornar também, numa região administrativa
independente.
Deixo-vos somente esta “imagem” que terão de construir na vossa imaginação, através das palavras desta pequena narrativa:
(Vivência
e imaginação) - Era terça-feira, dia 15 de outubro de 1963. O lugar de Pedrouços,
onde dificilmente chegava qualquer intervenção da Junta de Freguesia de Águas
Santas, a que pertencia, as ruas, em grande parte, eram ainda de terra batida.
Ter uma rua calcetada a paralelepípedo… era um “luxo”. É verdade que de longe-a-longe,
dois cantoneiros com o Dumper, com um trabalhar e trepidação ruidoso como o
motor de uma betoneira a gasóleo, visitavam o lugar de Pedrouços, para nas ruas
mais principais, procederem a limpar valetas, ripando a erva daninha.
Como era terça-feira, dia de mercado e feira do gado, o dia despertou muito cedo ao som dos cascos dos animais e dos rodados de carros de bois. Era habitual este despertar semanal às terças-feiras, mas como estávamos no fim do verão, a azáfama era ainda mais intensa. Pois havia aqueles animais de engorda, de salgadeira para serem vendidos. Levava-se o porco ou porca à feira, já forte e gorda, vendia-se e comprava-se mais dois leitõezinhos para criar a lavagem, para a próxima venda.
O
povo do lugar de Pedrouços, às portas da cidade do Porto, não esquecia que era terça-feira,
porque o dia de mercado e feira do gado, despertava toda a comunidade, com muitos
animais caminhando com os donos, em direção às oliveiras.
Bois,
vacas, carneiros, porcos, … os vendedores de alfaias agrícolas, as
hortaliceiras, galinheiras e coelheiras, até os carros de bois com produtos do
campo, quer para o mercado quer para a feira do gado, despertavam o animado
lugar de Pedrouços.
À porta da mercearia do Polónia, frente à viela dos Beirões, onde se vendia ainda o açúcar a peso, a farinha, os cereais e outros produtos, como o azeite, o petróleo por medida conforme a bolsa do cliente, os clientes e outros moradores que estavam por perto, deitaram a fugir para os Beirões quando um boi tresmalhado corria a rua Sacadura Cabral, ainda de terra batida e saibrenta, que fugira aos seus proprietários que o seguiam correndo de varas no ar para o tentar encurralar.
O
corpulento boi de raça mirandesa, assustador, correu rua acima em direção ao “Largo
dos Queimados”, com os seus criadores no seu encalço, enquanto se ouvia dos transeuntes
em fuga: “Cuidado, anda um boi à solta!”
Todas
as terças-feiras o lugar de Pedrouços vivia o grande momento de negócio, de
trocas, compras e vendas. Era nesta altura que os lavradores e criadores de
animais, trocavam o seu trabalho por dinheiro.
Tantos
levavam os seus animais já crescidos para venda e após o negócio traziam mais uns
novatos para continuarem esse processo de criação.
José Faria
Sem comentários:
Enviar um comentário