O MILAGRE DAS VELAS
Conto de Natal
Reza a história que um humilde sapateiro, pobre e muito bondoso, que vivia na rua Luís de Camões, a rua mais antiga, mais medieval do lugar de Petrauzos, por onde terá existido uma via-sacra no tempo do feudalismo; era um devoto de São Pedro, por isso visitava muitas vezes a ermida a São Pedro, no cimo do monte, mesmo frente onde morava.
Como gostava de ajudar os viajantes que passavam junto à sua casa, mesmo em frente à capelinha do Sr. dos Aflitos, construída por volta de 1440, o sapateiro deixava sempre uma vela acesa todas as noites no parapeito da sua janela, para lhes iluminar o caminho.
A
entrada da rua era um pouco inclinada, junto à rua António Feliciano de
Castilho, nome do escritor e poeta que cegou aos seis anos. Por isso, e pela sua bondade, mais se justificava o seu gesto de
iluminar o caminho, num tempo feudal ainda sujo por atos de esclavagismo, em
que a eletricidade nem era sonhada.
Certa
altura, deu-se uma grande guerra, muito antes das invasões francesas sobre o
comando do general Junot, que atravessaram as terras da Maia e que deixaram um
rasto de destruição e pilhagem.
Essa guerra, fez com que muitos os jovens partissem, deixando a aldeia de Petrauzos pobre e triste.
Nesse
tempo feudal e esclavagista, o lugar de Petrauzos era o segundo lugar agrícola
mais importante das terras de Santa Maria de Águas Santas, com 19 casais, pois
o mais importante era o lugar de Ardegães, com 21 casais e com muitos moinhos em
movimento constante nas margens do rio Leça, onde era moído o milho e os
cereais da intensa atividade agrícola na época.
A
ausência da juventude que partiu para a guerra, muito sentida pela falta de mão
de obra, e ainda mais triste pela ausência da alegria e da vivacidade dos
jovens em Petrauzos; levou os aldeões pedroucenses, para atenuarem a tristeza,
a imitarem o bom sapateiro, que continuava a viver a sua vida cheia de
esperança e de bondade, e a colocar todas as noites uma vela a arder para
iluminar o caminho.
Como se aproximava o Natal, a tristeza mais se acentuou face à ausência da juventude que fora combater.
Então
as pessoas começaram a acender também velas, e na véspera de Natal, com maior
intensidade, todos acenderam velas dentro de casa e colocadas às janelas, às
portas. Toda a aldeia de petrauzos ficou iluminada, de luzinhas cintilantes.
Ao
aproximar-se a meia-noite, os sinos da igreja de Nossa Senhora do Ó, do
Mosteiro de Santa Maria de Águas Santas, (que ainda não existia a igreja da
Natividade, só construída em 1741) começaram incessantemente a tocar.
O povo saiu à rua sem saber o que se estava a passar, até que se ouviram alguns moradores a gritar: “A guerra acabou! A guerra acabou! Acabou a guerra!
O
sino, incessantemente badalado, anunciava essa boa notícia: a guerra tinha finalmente
terminado e os jovens regressavam às suas casas! Todos gritaram: “É um milagre!
É o milagre das velas!”.
A
partir daquele dia, acender uma vela na véspera de Natal, tornou-se tradição em
quase todas as casas.
(Por
isso, não se esqueçam deste momento e desta lenda. Na noite de Natal acendam
uma vela pelo milagre da paz no Mundo.
Lenda
de origem austríaca – Autor desconhecido
Adaptada a Pedrouços, da Maia, por José Faria
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