LENDA DA SENHORA DO SALTO
Fui
dar um salto à Senhora do Salto,
Reviver
a lenda, fui a pedalar;
Dou-vos
imagens do baixo e do alto,
E
trago a história para vos contar:
Reza a lenda que numa certa manhã de nevoeiro um cavaleiro perseguia uma lebre no alto da “Boca do Inferno” na serra de Abelheira, na freguesia de Aguiar de Sousa do concelho de Paredes. A lebre (ou o diabo disfarçado de lebre) correu na direção do abismo na escarpa do rio Sousa.
Quando o cavaleiro se apercebeu que estava
prestes a cair no abismo, evocou a nossa Senhora do Salto para que o salvasse
de morte certa.
O cavalo num último folgo de impulso, com o cavaleiro abraçado ao seu pescoço, galgou o precipício e foram cair na outra margem do rio Sousa sobra as rochas lapidadas e polidas pelas águas ao longo dos anos.
Como se por milagre a o chão rochoso
transformou-se em cera onde o cavalo ao cair cravou as patas e o focinho
fazendo aí cinco buracos que ainda hoje se podem ver.
Diz a lenda que por esse milagre da
salvação, o cavaleiro mandou construir a capela em devoção e agradecimento à
Senhora do Salto.
Todos os contos e lendas do povo
enraizadas na história, são património cultural da terra e das suas gentes a
preservar.
Na divulgação desta lenda, estão as
quadras descritivas, do botânico e poeta, Augusto Luso da Silva, procedimento
que influenciou também o meu último trabalho literário de Lendas da Maia.
O MILAGRE DA
SENHORA DO SALTO
Pela serra
d’Abelheira
Montado em nédio
corcel
Leva seguida
carreira
Um cavaleiro
donzel
A barba luzente
brilha
Do orvalho que em
gotas cai
Fareja veloz
matilha
Que em roda
saltando vai
Não vê dez braças
em frente
Com tamanha névoa
assim
Ouve saltar de
repente
Os cães a latir.
Enfim.
Rompe-lhe rápida
lebre
Que ali lhe escapa
do pé
Deita a correr com
tal febre
Que nada teme nem
vê
A lebre corria
adiante
E ele atrás,
sempre a correr
Ia o cavalo
ofegante
Já em suor a
escorrer
Ela ia de rabo
alçado
E o via a seguir
atrás
Por ter os olhos
de lado
Que fino que é
Satanás
Mas eis que
chegando à beira
Daquele abismo…
saltou
E no inferno
matreira
Pelo rio se
escapou.
Ele ia, enfim, sem
receio
E cego, a bom
galopar
Não pode reter o
freio
E sente o cavalo
saltar
Sente no ar a
corrente
Que as faces
cortar-lhe vem
Vê-se suspenso e
pendente
Sobre o abismo
também
Valei-me Virgem
Senhora
Valei-me sou
pecador
Por mim não, por
ela agora
Que sois todo o
seu amor
E sem o menor
abalo
(Tal não viu
Nazaré)
Firme se achou no
cavalo
Na parte oposta,
de pé
Mui contrito e
arrependido
Feria o peito co’a
mão
E se votou
decidido
Da Virgem à
devoção.
Lenda registada e
contada pelo botânico e poeta,
Augusto Luso da
Silva














