CANÇÃO OU DECLAMAÇÃO EX A QUESTÃO!
Os eventos ou tertúlias culturais de fado e de poesia, são os
que mais condignamente defendem e promovem a mensagem cantada ou declamada do
poema. Pois intercalam nos eventos o fado e a poesia, para que se entenda e se
valorize ambas as formas de mensagem poética, cantada e declamada.
Apesar de sabermos que não há canção nem fado sem poema, nem poema sem poeta, a verdade é que há sempre muito mais audiência para se participar a ouvir fado do que para se ouvir declamação de poesia.
Embora o valor cultural mais elevado esteja na comunicação e
mensagem em prosa e poesia, a poesia ainda é vista como melancólica cheia de
melaço por excesso de manifestação de sentimentos de afetos íntimos, pessoais e
alheios. Depois há poesia que exagera em falar do “eu”, da vida do poeta ou
poetiza, das suas tristezas, maleitas e desamores, que no fado passava bem, mas
em leitura de declamação, mais parece queixume. E isso não favorece nada o
valor que a poesia exige, e a importância cultural que lhe pertence.
Mas é a falar, a declamar que a poesia comunica e transmite
valores sociais e culturais. Se for a poesia cantada em fado, tem outra
aceitação, tem maior auditório, mais pela voz e pelo cenário e som da viola e
da guitarra, e, embora não se entenda a mensagem da letra, do poema que o poeta
escreveu para o fado, dá-se valor ao fadista: -“Canta muito bem, tem uma linda
voz de fado…sim senhor!” Nunca dizem “gostei do poema” e pior ainda, é que
muitas vezes, nem o nome do poeta que escreveu o poema, é referido. Porque
afinal, para muitos que amam o fado e dispensam o poeta, o fadista é que é o
artista.
Claro que sempre foi assim e tende a piorar, porquanto há
cada vez mais quem escreva versos, a rimar ou não, para dar desabafo às suas
lamechas, aos passos da sua vida, às suas tristezas, pobrezas e desamores,
empobrecendo a cultura da poesia.
Esta realidade constata-se quando se cria uma SESSÃO DE FADOS, E basta ter três ou quatro fadistas e seja lá onde for. A plateia fica cheia de público só para ouvir cantar o fado.
Quando se cria uma TERTÚLIA DE POESIA, mesmo com um músico
cantor, a animar musicalmente a sessão de poesia, por muitos apelos à
participação, a plateia até pode ficar razoável, mas raramente tem público, a
não ser os próprios poetas e poetizas que vão ler e declamar poesia, uns para
os outros, porque o único público são eles.
Depois tem a poesia também, o inconveniente do sistema
político não gostar dos poetas por muito que digam, informem, despertem e
esclareçam culturalmente.
Mas gostam do fado que não incomoda, mesmo do fado que não
diz nada, mas foi bem cantado e bem acompanhado à viola e à guitarra.
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