EM SÃO MIGUEL O ANJO

sexta-feira, 17 de junho de 2022

REMÉDIOS DOS POBRES

 


TALHAR ERA O REMÉDIO DOS POBRES

- O “milagre” da rezinha dava para todas as maleitas.

Deslocavam, escanavam ou torciam o pé, o braço, a perna!? – Lá iam “coser” o mal à curandeira ou ao endireita habilidoso, que os esfregava com água-ardente e puxa aqui, esfrega acolá mais a rezinha, e curavam todas as maleitas.

Estavam com o tesorelho ou papeira, iam aos lavradores, aguentavam com o jugo no cachaço ainda quente do cachaço dos bois, e a rezinha curava-os.
Eram estes os tratamentos, os remédios e os doutores e as farmácias do povo de antigamente. De quando “éramos felizes e não sabíamos” (!?)
“Estrelinha brilhante,
O meu filho tem uma íngua,
Ela diz que pode mais do que tu,
Mas tu podes mais do que ela;
Brilhes tu e seque ela.
 
Esta lenga, lenga de cura da íngua, aftas, entorses e de outras maleitas, era dita à noite com céu limpo, de forma a ver-se pelo menos uma estrela. Escolhia-se a estrela e fixava-se nela o olhar. Depois de se benzer e com a mão sobre a cabeça do filho ou filha que tinha a íngua, que também se benzia, a mãe mandava o filho ou filha repetir, sempre a olharem para a estrela que escolheram:
- “Estrelinha brilhante….
Mas também se talhava o medo da criança, andando com ela à volta de um esteio debaixo da ramada, tagarelando a rezinha. E pronto, tínhamos remédios para todos os males!? – Se não curasse à primeira, no dia seguinte voltavam ao tratamento das maleitas com o mesmo “medicamento” benzido e falado, com os olhos postos na estrela “curativa”.

E eram muitos os remédios para todos os males, pois quando se tratava de uma alergia, um vermelhão, um inchaço... com um carvão na mão, meio quente, ia-se nele cuspindo e depois andando com ele à volta da alergia, do inchaço, do vermelhão com idêntica "receita" curativa palrando outra reza:
"Bicho, bichão, aranha, aranhão,
sapo, sapão, cobra, cobrão e bicho de toda a nação;
assim tu seques como este carvão."
E voltava-se a cuspir no carvão, e voltava-se a repetir o "remédio".

Conclusão: - Pobres, do tempo em que nem haviam infantários, nem pré-primárias, de quando a maioria das mulheres do povo pariam em casa, com a ajuda da vizinha habilidosa a que chamavam de parteira; sem dinheiro para calçado e de roupa quase sempre remendada, que ia dando de uns irmãos mais velhos para os mais novos. Pés quase sempre feridos por andarem descalços. Escondia-se a broa para dar para o almoço ou jantar… para a “canalha” não a comer fora de horas.
Tempo em que as crianças começavam a trabalhar nos campos, nas fábricas e nas obras aos 10 e 11 anos; tempo em que as crianças na escola levavam com a caninha nas orelhas ou reguadas, porque não fizeram os trabalhos de casa (deveres)… porque andaram a trabalhar antes e depois da escola…
Mas eram felizes, muito felizes, só que não sabiam. !?...
Assim pensa, afirma e divulga, tanta ignorância e saudosismo da pobreza.
José Faria

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