FOOOOOOGO! JÁ AAAAARRRRRRDE!
Há muito que se perdeu do ouvido e do tempo,
aquele tilintar persistente e compassado dos pedreiros. Aqueles berros de
alerta para o perigo dos tiros nas pedreiras.
“fooogoo, já arde! Fooogo, foooogo, já arde!
Minutos depois, o estrondo, o rebentamento da penedia, seguido por vezes, de
uma chuva de pequenas pedras a cair do céu por entre giestas, pinheiros e
eucaliptos.
Era a vida dos montantes pedreiros que extraíam
a pulso e a dinamite a pedra dos montes.
Até aos anos sessenta, as terras da Maia eram
“férteis” em pedreiras. Muitos eram os montados, as bouças rasgadas a pulso
pelas mãos dos montantes pedreiros.
Pude acompanhar o meu progenitor em algumas
delas, em Águas Santas, no Boi Morto, em Milheirós e no Monte Penedo.
Uma vida rude que exigia resistência, força e
até brutalidade, dos homens que a pulso, ferro e fogo, desbravavam montes de
granito sem a existência de máquinas, que ainda as não havia.
Também na “razão destes versos” não poderia
deixar de contemplar a bravura e o engenho daqueles que faziam da pedra o que
queriam com meios tão artesanais. Conheciam todas as características e os veios
e pontos fracos da pedra no seu estado natural como as suas calejadas e
gretadas mãos, de pulsos papudos por forças provocadas por excessos de força,
de luta de trabalho e de resistência humana.
MONTANTE
A derrubar montanhas,
Montante de profissão,
De xisto ou de granito,
Rasgadas por sua mão.
Já o dia se levanta,
Se levanta a força, o grito:
Canta o pisco, chasco canta,
Canta o picão no granito.
Montante que lá no
monte,
Tua força não
conheces;
Sai de tuas mãos a
pedra,
P’ra palácios.
Desconheces?
É feito um furo no bolo,
Com a broca à
pulsação,
Num compasso
cantador,
Que dá força ao
marretão.
É metida a dinamite,
Nas entranhas da montanha;
Mãos robustas, cuidadosas,
Não se percam na façanha.
Já o tiro rebentou!
Cuidado, não saltem
guilhos.
Não vá a pedra que voou,
Deixar sem pai os
teus filhos.
José Faria
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