A GAMELA - DE HENRIQUE O'NEIL - Séc. XIX
A GAMELA
Homem mui velho e já
tonto,
Um filho casado e um
neto,
Debaixo do mesmo teto,
Nos diz um conto,
Viviam.
Juntos, porém, não
comiam;
O velho, pois que a
tigela
Quebrava
E o caldo entornava,
Comia numa gamela
De pau, e fora
Da mesa;
Com asp’reza
Era tratado
Pelo filho, e pela nora
Desprezado.
Um dia, ao canto da casa,
Estando o neto entretido
- era ainda pequenote –,
Muito atento a ver se
vaza
Com uma goiva e um
serrote
Um pedaço de madeira,
Interrompido
Pelo pai foi, que indagou
O fim de tal brincadeira.
- Aqui ‘stou –
Lhe responde o inocente –
A fazer uma gamela,
Qual aquela
Em que come o meu avô,
Para meu pai comer nela,
Quando for velho e
demente.
Acrescenta mais o conto:
Revirou
O coração
Ao pai aquela lição;
Cuidadoso
E respeitoso
Desde então
Tratou
Do velhinho tonto.
Filhos que não respeitais
Vossos pais,
Como heis-de neles achar
Quem vos saiba respeitar?
Henrique O’Neil,
Fabulário (Sec. XIX)
Do Livro de Leitura,
Parte II 2º Ano
Diário do Governo, II
série,
de 24-VI—1950 - preço, 22$50
(5 coroas)
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