EM SÃO MIGUEL O ANJO

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

CAMINHOS DO PEREGRINO JOSÉ FARIA

 

POESIA DO CAMINHO DO PEREGRINO

CAMINHOS de José Faria

2015/2016/2017/2021/2022/02023.

 

Os caminhos que trilhamos,

São muitos e verdadeiros,

É o Mundo que criamos,

Só nosso de caminheiros.

 

E nem sempre acreditamos,

Que somos aventureiros;

Desde que nascemos estamos,

Destinados a obreiros.


Que importa se a caminhada,

É curta ou alongada,

Menor ou de grandeza;

 

O importante é ser sagrada,

Ser feliz e venerada,

Por respeito à natureza.

  ------------

 OS RASGOS DO CAMINHO

Os rasgos das rodas de carros puxados,

Por bois e cavalos e outros animais;

Mostram a força e a dor de cansados,

Dessa tração que não se vê mais.

Aqui peregrinei em tempos marcados,

Por cinco caminhos e quero ir mais;


Só no caminho somos consagrados,

Nos libertamos de coisas banais.

 

Volto em dois mil e vinte e três,

Se a vida e a saúde o permitir,

De volta ao caminho de Santiago.

 

Dar-me sozinho mais uma vez,

Que me liberte da urbe e fugir;

Pura ansiedade que em mim trago.

-----------

RETOMAR O CAMINHO

Quero voltar ao caminho,

Em dois mil e vinte e quatro;

E de novo caminhar sozinho,

Saber mais de mim não me farto.

 

Aventura é o caminho de Santiago,

Por qualquer um como o da costa,

Sentir o marinheiro que em mim trago,

E abraçar o monte que se gosta.

 

A Santiago caminhei pelo interior,

Pelo central fui lá ter também;

Pela costa vê-se o mar ainda maior,

Pelo da Geira ainda é ir mais além!

 

Vastidões de oceanos, tanto alento,

Quase todos de ventos lusitanos;

São do planeta terra o alimento,

De tanta história que guardamos.

 

O caminho de Santiago é de pujança,

De paz, descoberta e de compreensão;

Onde há força, há vida e há esperança,

Onde a liberdade desperta em gratidão.

 

Universo pessoal de independência,

No caminhar constante de felicidade;

Por mais respeito à vida, à existência,

Por amor à natureza com mais verdade.

-----------

LIBERTAÇÃO PEREGRINA

Segue em frente peregrino,

Nos passos da liberdade;

A Catedral é o destino,

De Compostela, a cidade.

 

Santiago lá te espera,

E contigo vai presente;

Vive e ama essa quimera,

Leva tua graça em frente.

 

O caminho, é descoberta,

Da vida, da natureza;

Da existência, alma aberta,

À gratidão e à beleza.

 

Segue as setas amarelas,

O Caminho é a tua ida;

Entre montes e vielas,

Segue o milagre da vida,

Da existência, passo errante,

Segue o cajado, o bastão;

Vive a tua fé constante,

Na alma e no coração.

 

A mochila é a segurança,

O conforto, a companhia;

Presa ao corpo não se cansa,

Tão servil no dia a dia.

 

O cansaço e o ardume,

Das bolhas, desse mancar;

São vitórias sem queixume,

Do teu tanto caminhar.

 

Vai na mochila a vieira,

O bastão leva a cabaça;

P’ra ter sorte na canseira,

E à sua sede dar graça.

 

Não há adversidade,

A natureza é pura e bela;

Só Gratidão e felicidade,

Por Santiago de Compostela.

 

Na aventura e na experiência,

Voa o nosso pensamento;

Saber mais sobre a existência,

Por muito mais conhecimento.

------------

A ALDEIA FANTASMA

- Caminho da Geira e dos Arrieiros -

 

Muito gostaria de neste meu caminho,

Que fiz só, da Geira e dos Arrieiros;

Permanecer nesta aldeia, aí sozinho,

Descobrir pormenores de garimpeiros.

 

Descobrir como foi, do povo a entrega,

A sua criação de aldeia na floresta;

Encontrar nessas ruínas que hoje nos lega,

Valores e descobertas por outra fresta.

 

Fiquei possuído, mas não pude parar,

Neste caminho, místico e ancestral,

No seio de florestas e bosques sem fins;

 

O caminho da Geira e dos Arrieiros,

Tão primitivo entre os primeiros,

Está cheio de histórias, boas e ruins,

----------

No caminho da Geira e dos Arrieiros

ALMOÇO DA COBRA

- Um melro saboroso.

No caminho, entre vales e montes,

As descobertas são constantes;

Nas encostas cantam as fontes,

E surgem surpresas fascinantes.

 

Uma linda e bela cobra almoçava,

Atravessada no estreito caminho,

Um melro aos poucos abocanhava,

Eu fiquei a filmá-la caladinho.

 

Não a importunei, parei de caminhar,

Tive cuidado e estava sozinho;

Contorneia-a para a não incomodar,

Filmei-a e segui o meu caminho.

---------

É já ali...

A Catedral de Santiago de Compostela!

Pausa em Pontevea, calma, descontração!

Aguardo aqui a noite dormitar;

Como me disse António Castro com razão,

"Faria, não tenhas pressa em chegar!"

 

Cruzou-se comigo o português João,

Bicigrino só no seu caminho,

Duas de conversa foi consolação,

Voltou a pedalar, fiquei sozinho

 

No dia seguinte, mais dois ciclistas,

Vindos de Vila Nova de Gaia;

Trocamos impressões e boas vistas,

Seguiram o meu caminho, a mesma raia.

 

Paulo Pinto e José Lamas, juntamente,

Companheiros bicigrinos da jornada;

Seguiram pedalando sempre à frente,

Só no caminho ficou minha passada.

 

Sábado de manhã estarei em Santiago,

No caminho não há último nem primeiro;

Assim respondo ao desejo que em mim trago,

De assistir ao Botafumeiro.

-----------

MAIS UM PEDAÇO DO CAMINHO.

Cheirou-me a velho, a tempo suado,

No descanso em Béran onde me entreguei;

Do caminho distante, do corpo cansado,

Da velha dormida que atrás deixei.

 

E aquela incerteza do que vem a seguir,

Que outros caminhos vou percorrer!?

E onde será que irei dormir,

Com algum conforto de me recolher?


Passos de Arenteiro, tanta elevação,

Passo ofegante, tão inclinado;

Por entre ruínas de habitação,

De povo e labuta, distante passado.

 

Serra mais serra, tanta floresta,

Grasnam os corvos no meu caminho,

Corre um sardão num penedo do monte,

Com a natureza nunca estou sozinho.

----------

O CAMINHO VAI CONNOSCO

Pululam ainda em meu pensamento,

E vão pulular até ao meu fim;

Os caminhos que fiz com sentimento,

E que continuam dentro de mim.

 

São de pureza a que me acorrento,

Porque a vida que se vive é assim;

A mãe natureza é o nosso alimento,

Sem caminho a vida encontra o fim.

Toda a energia deste caminhar,

Ganha nos caminhos de Santiago,

São de gratidão e de felicidade;

 

O “Geira e dos Arrieiro” veio reforçar,

Mais cinco caminhos que fiz e trago;

Que vão comigo para a eternidade.

--------

ESPERO VOLTAR A SANTIAGO

PELO CAMINHO DA COSTA

Hei de voltar ao caminho,

Em dois mil e vinte e quatro;

Ter da maresia o cheirinho,

Que do mar nunca me farto.

Junto ao mar para Santiago,

Seguindo o caminho da costa;

Que o marinheiro que trago,

Além do monte, do mar gosta.

 

Já pedalei pelo interior,

E pelo português também;

Junto ao mar eu sou maior,

Na imensidão que ele tem.

 

Peregrino é quem mais gosta,

De caminhos e carreiros,

Caminhei o central, o da costa,

O da Geira e dos Arrieiros.

 

O nosso mar bem português,

Cheio de mistério e de magia;

Chama-me de novo outra vez,

Para o ter por companhia.

 

De aventura e meu fadário,

No caminho que me ilumina,

Onde já tive um aniversário,

Na Casa da Carolina.

 

Quero de novo lá voltar,

Com gratidão e liberdade;

Para de novo festejar,

Agora os setenta de idade.

José Faria

 

 


Sem comentários:

Enviar um comentário