POESIA DO CAMINHO
DO PEREGRINO
2015/2016/2017/2021/2022/02023.
Os caminhos que
trilhamos,
São muitos e
verdadeiros,
É o Mundo que
criamos,
Só nosso de
caminheiros.
E nem sempre
acreditamos,
Que somos
aventureiros;
Desde que nascemos
estamos,
Destinados a obreiros.
Que importa se a caminhada,
É curta ou
alongada,
Menor ou de
grandeza;
O importante é ser
sagrada,
Ser feliz e
venerada,
Por respeito à
natureza.
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OS RASGOS DO CAMINHO
Os rasgos das rodas de carros
puxados,
Por bois e cavalos e outros
animais;
Mostram a força e a dor de
cansados,
Dessa tração que não se vê mais.
Aqui peregrinei em tempos
marcados,
Por cinco caminhos e quero ir mais;
Só no caminho somos
consagrados,
Nos libertamos de coisas
banais.
Volto em dois mil e vinte e
três,
Se a vida e a saúde o
permitir,
De volta ao caminho de
Santiago.
Dar-me sozinho mais uma vez,
Que me liberte da urbe e
fugir;
Pura ansiedade que em mim
trago.
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RETOMAR O CAMINHO
Quero voltar ao caminho,
Em dois mil e vinte e quatro;
E de novo caminhar sozinho,
Saber mais de mim não me farto.
Aventura é o caminho de Santiago,
Por qualquer um como o da costa,
Sentir o marinheiro que em mim trago,
E abraçar o monte que se gosta.
A Santiago caminhei pelo interior,
Pelo central fui lá ter também;
Pela costa vê-se o mar ainda maior,
Pelo da Geira ainda é ir mais além!
Vastidões de oceanos, tanto alento,
Quase todos de ventos lusitanos;
São do planeta terra o alimento,
De tanta história que guardamos.
O caminho de Santiago é de pujança,
De paz, descoberta e de compreensão;
Onde há força, há vida e há esperança,
Onde a liberdade desperta em gratidão.
Universo pessoal de independência,
No caminhar constante de felicidade;
Por mais respeito à vida, à existência,
Por amor à natureza com mais verdade.
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LIBERTAÇÃO PEREGRINA
Segue em frente peregrino,
Nos passos da liberdade;
A Catedral é o destino,
De Compostela, a cidade.
Santiago lá te espera,
E contigo vai presente;
Vive e ama essa quimera,
Leva tua graça em frente.
O caminho, é descoberta,
Da vida, da natureza;
Da existência, alma aberta,
À gratidão e à beleza.
Segue as setas amarelas,
O Caminho é a tua ida;
Entre montes e vielas,
Segue o milagre da vida,
Da existência, passo errante,
Segue o cajado, o bastão;
Vive a tua fé constante,
Na alma e no coração.
A mochila é a segurança,
O conforto, a companhia;
Presa ao corpo não se cansa,
Tão servil no dia a dia.
O cansaço e o ardume,
Das bolhas, desse mancar;
São vitórias sem queixume,
Do teu tanto caminhar.
Vai na mochila a vieira,
O bastão leva a cabaça;
P’ra ter sorte na canseira,
E à sua sede dar graça.
Não há adversidade,
A natureza é pura e bela;
Só Gratidão e felicidade,
Por Santiago de Compostela.
Na aventura e na experiência,
Voa o nosso pensamento;
Saber mais sobre a existência,
Por muito mais conhecimento.
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A ALDEIA FANTASMA
- Caminho da Geira e dos Arrieiros -
Muito gostaria de neste meu caminho,
Que fiz só, da Geira e dos Arrieiros;
Permanecer nesta aldeia, aí sozinho,
Descobrir pormenores de garimpeiros.
Descobrir como foi, do povo a entrega,
A sua criação de aldeia na floresta;
Encontrar nessas ruínas que hoje nos lega,
Valores e descobertas por outra fresta.
Fiquei possuído, mas não pude parar,
Neste caminho, místico e ancestral,
No seio de florestas e bosques sem fins;
O caminho da Geira e dos Arrieiros,
Tão primitivo entre os primeiros,
Está cheio de histórias, boas e ruins,
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No caminho da Geira e dos Arrieiros
ALMOÇO DA COBRA
- Um melro saboroso.
No caminho, entre vales e montes,
As descobertas são constantes;
Nas encostas cantam as fontes,
E surgem surpresas fascinantes.
Uma linda e bela cobra almoçava,
Atravessada no estreito caminho,
Um melro aos poucos abocanhava,
Eu fiquei a filmá-la caladinho.
Não a importunei, parei de caminhar,
Tive cuidado e estava sozinho;
Contorneia-a para a não incomodar,
Filmei-a e segui o meu caminho.
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É já ali...
A Catedral de Santiago de Compostela!
Pausa em Pontevea, calma, descontração!
Aguardo aqui a noite dormitar;
Como me disse António Castro com razão,
"Faria, não tenhas pressa em chegar!"
Cruzou-se comigo o português João,
Bicigrino só no seu caminho,
Duas de conversa foi consolação,
Voltou a pedalar, fiquei sozinho
No dia seguinte, mais dois ciclistas,
Vindos de Vila Nova de Gaia;
Trocamos impressões e boas vistas,
Seguiram o meu caminho, a mesma raia.
Paulo Pinto e José Lamas, juntamente,
Companheiros bicigrinos da jornada;
Seguiram pedalando sempre à frente,
Só no caminho ficou minha passada.
Sábado de manhã estarei em Santiago,
No caminho não há último nem primeiro;
Assim respondo ao desejo que em mim trago,
De assistir ao Botafumeiro.
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MAIS UM PEDAÇO DO CAMINHO.
Cheirou-me a velho, a tempo suado,
No descanso em Béran onde me entreguei;
Do caminho distante, do corpo cansado,
Da velha dormida que atrás deixei.
E aquela incerteza do que vem a seguir,
Que outros caminhos vou percorrer!?
E onde será que irei dormir,
Com algum conforto de me recolher?
Passos de Arenteiro, tanta elevação,
Passo ofegante, tão inclinado;
Por entre ruínas de habitação,
De povo e labuta, distante passado.
Serra mais serra, tanta floresta,
Grasnam os corvos no meu caminho,
Corre um sardão num penedo do monte,
Com a natureza nunca estou sozinho.
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Pululam ainda em meu pensamento,
E vão pulular até ao meu fim;
Os caminhos que fiz com sentimento,
E que continuam dentro de mim.
São de pureza a que me acorrento,
Porque a vida que se vive é assim;
A mãe natureza é o nosso alimento,
Sem caminho a vida encontra o fim.
Toda a energia deste caminhar,
Ganha nos caminhos de Santiago,
São de gratidão e de felicidade;
O “Geira e dos Arrieiro” veio reforçar,
Mais cinco caminhos que fiz e trago;
Que vão comigo para a eternidade.
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ESPERO VOLTAR A SANTIAGO
PELO CAMINHO DA COSTA
Hei de voltar ao caminho,
Em dois mil e vinte e
quatro;
Ter da maresia o cheirinho,
Que do mar nunca me farto.
Junto ao mar para Santiago,
Seguindo o caminho da costa;
Que o marinheiro que trago,
Além do monte, do mar gosta.
Já pedalei pelo interior,
E pelo português também;
Junto ao mar eu sou maior,
Na imensidão que ele tem.
Peregrino é quem mais gosta,
De caminhos e carreiros,
Caminhei o central, o da
costa,
O da Geira e dos Arrieiros.
O nosso mar bem português,
Cheio de mistério e de
magia;
Chama-me de novo outra vez,
Para o ter por companhia.
De aventura e meu fadário,
No caminho que me ilumina,
Onde já tive um aniversário,
Na Casa da Carolina.
Quero de novo lá voltar,
Com gratidão e liberdade;
Para de novo festejar,
Agora os setenta de idade.
José Faria
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