O FRANGO E A PÉROLA
Um pintainho andava na
estrumeira,
Debicando, à procura de
alimento,
Quando achou, misturado
na estrumeira,
Uma formosa pérola, um
portento!
O pinto era filósofo,
decerto,
Pois afirma o honrado
fabulista
Que ele ficou ali, de
bico aberto,
Meditando em tal coisa
nunca vista.
E depois exclamou, triste
e mesquinho,
Cismando nos contrastes
deste mundo
- e falava latim o
pintainho! -,
- Tão linda coisa num
lugar imundo!
Se algum homem te
achasse, o antigo brilho
Recobraras, ó pérola
manchada!
Mas eu prefiro a ti um
grão de milho;
Para mim, que te achei,
não vales nada.
Visconde de Santo Tirso
(Séc. XIX)
AS ALDEIAS
Eu gosto das aldeias
sossegadas,
Com o seu aspeto calmo e
senhoril,
Erguidas nas colinas
azuladas,
Mais frescas que as manhãs
finas de abril.
Pelas tardes das eiras,
como eu gosto,
Sentir a sua vida ativa e
sã,
Vê-las na luz dolente do
sol-posto,
E nas suaves tintas da
manhã.
Alegram as paisagens, as crianças,
Mais cheias de murmúrios
do que um ninho,
E elevam-nos às coisas
simples, mansas,
Ao fundo, as brancas
velas de um moinho.
Pelas noites de estio,
ouvem-se os ralos
Zunirem as suas notas
sibilantes;
E misturam-se o uivar dos
cães distantes
Com o cântico metálico
dos galos.
Gomes Leal. Claridades do
sol. (Século XX)
Do Livro de Leitura,
Parte II 2º Ano
Diário do Governo, II
série,
de 24-VI—1950 - preço, 22$50
(5 coroas)
AS ALDEIAS
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