EM SÃO MIGUEL O ANJO

domingo, 18 de fevereiro de 2024

O FRANGO, A PÉROLA E AS ALDEIAS

 

O FRANGO E A PÉROLA
 
Um pintainho andava na estrumeira,
Debicando, à procura de alimento,
Quando achou, misturado na estrumeira,
Uma formosa pérola, um portento!
 
O pinto era filósofo, decerto,
Pois afirma o honrado fabulista
Que ele ficou ali, de bico aberto,
Meditando em tal coisa nunca vista.
 
E depois exclamou, triste e mesquinho,
Cismando nos contrastes deste mundo
- e falava latim o pintainho! -,
- Tão linda coisa num lugar imundo!
 
Se algum homem te achasse, o antigo brilho
Recobraras, ó pérola manchada!
Mas eu prefiro a ti um grão de milho;
Para mim, que te achei, não vales nada.
 
Visconde de Santo Tirso (Séc. XIX)
 
AS ALDEIAS
 
Eu gosto das aldeias sossegadas,
Com o seu aspeto calmo e senhoril,
Erguidas nas colinas azuladas,
Mais frescas que as manhãs finas de abril.
 
Pelas tardes das eiras, como eu gosto,
Sentir a sua vida ativa e sã,
Vê-las na luz dolente do sol-posto,
E nas suaves tintas da manhã.
 
Alegram as paisagens, as crianças,
Mais cheias de murmúrios do que um ninho,
E elevam-nos às coisas simples, mansas,
Ao fundo, as brancas velas de um moinho.
 
Pelas noites de estio, ouvem-se os ralos
Zunirem as suas notas sibilantes;
E misturam-se o uivar dos cães distantes
Com o cântico metálico dos galos.
 
Gomes Leal. Claridades do sol. (Século XX)
 
Do Livro de Leitura, Parte II 2º Ano
Diário do Governo, II série,
de 24-VI—1950 - preço, 22$50 (5 coroas)
 
 

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