DESPERTAR 5
DESPERTAR - Parte 5
- Mantém-se em voga todo o legado,
- Nas comunidades, nada de novo;
- Em todos os governos e formas de estado,
- De soberano é somente o povo.
José Faria
(In - O culto da incompetência)
Continuando mergulhado na leitura do pequenino livro de Émile Faguet, de
2019, com o título “O Culto da Incompetência”, deixo-me borbulhar em pensamento
de análise e de comparação dessa abordagem de há cem anos, com o que se passa
comparar presentemente em 2021.
E por aqui se descobrem elevadíssimos pós e contras da democracia, e, na
verdade, o que se constata, são mais os contras do que os prós, até porque, a
democracia tem as suas próprias doenças e feridas, sempre infetadas pelos que
dela se aproveitam. E são essas maleitas que permitem eleger e promover a
incompetência, o oportunismo, o compadrio, a clientela partidária e a
corrupção, em detrimento da competência e da promoção social global.
E todos sabemos que a incompetência, o oportunismo e outras qualidades mais
nefastas socialmente, tudo fazem para branquear essas suas qualidades,
explorando convenientemente e em demasia, as emoções mais sentidas do povo,
colando-se por isso muitas vezes às questões religiosas.
E o povo, “a multidão, dá-nos bem a nota do que ela entende pelo valor
moral de um homem. O valor moral do homem consiste para a multidão no facto
desse homem sentir ou simular sentir, os mesmos sentimentos que ela sente; e é
por essa razão que os seus efeitos são excelentes como elementos indicativos,
preciosos como fontes de informação, mas detestáveis, ou, pelo menos, inúteis,
portanto, também detestáveis como legisladores.”
Esta leitura e afirmação de 2019, também encaixa em 2021, com o que se
passa na atualidade.
Atente-se, por exemplo, na fome, no desemprego, na desgraça e morte que a
pandemia do covid 19 veio semear em Portugal e no mundo.
Ora, muitos eleitos do povo, que se dizem representantes e defensores do
povo que os elegeu a nível local e regional, com o encerramento dos cemitérios
devido à pandemia, não se preocuparam com a fome e o desemprego no concelho ou
freguesia, mas sim e somente com a exploração do sentimento, da questão
emotiva.
Acudiram onde menos é necessário acudir, dar luz e flores aos mortos, em
detrimento de dar assistência e alimentação aos vivos.
“NÃO VENHA AO CEMITÉRIO, NOS ENFEITAMOS POR SÍ!”
Este foi o slogan de promoção política dos que praticam o Culto da
Incompetência, e da incapacidade nos cargos para os quais foram eleitos, em
muitas autarquias de norte a sul do país, porque deixaram ao abandono, à sua
sorte e a fome, os vivos, e gastaram dinheiro do povo em ceras luminosas e
arranjos de flores cheirosas para quem já não existe, não come nem cheira.
O grande problema é que em democracia “o povo adora a incompetência, não só
porque não pode apreciar a competência intelectual, mas, porque vai acreditando
na competência moral por um critério falso, como é natural, e o que mais estima
nos seus eleitos, como o facto de se lhe assemelharem.”
– Por isso ainda se manifestam pobres esfomeados e desempregados e sem
dinheiro, a agradecer as flores e as ceras luminosas no cemitério encerrado
devido à pandemia:
- “Obrigado senhor presidente, muito obrigado… não tenho palavras!”
Claro que estas despesas de exploração do sentimento do povo, não para
matar a fome ao povo, são custeadas com o dinheiro do povo, saem do orçamento
do poder local. Mas o povo nem pensa nisso. E se pensa, ainda agradece.
Por isso, - “o povo é levado instintivamente a eleger homens e mulheres que
tenham os mesmos hábitos, as mesmas maneiras e a mesma instrução que ele, ou,
quando muito, uma instrução um pouco superior. O importante é que o eleito
saiba sempre corresponder áquilo que quer o povo, sobretudo no que diz respeito
às suas emoções, crendices e religião.
E é nesta conjuntura que o eleito se movimenta e que dá ao povo a ideia de
competência, quando é exatamente o contrário.
Mesmo numa região onde tudo falta, o povo esquece o que lhe falta para
elogiar a atitude do eleito, ou dos seus eleitos, só por colocarem flores e
ceras a arder, substituindo-se aos fregueses no cemitério.Na verdade, e por incrível que pareça, é profundamente real e subtil os
procedimentos despesistas originados em democracia; Ora, -“se nos lembrarmos de
que Aristóteles assemelhou a democracia no seu estado agudo à tirania,
acharemos deveras interessante o quadro resumido e por ele traçado dos meios da
tirania; - reprimir os que tenham qualquer superioridade, e que possam pôr em
causa os eleitos incompetentes, escolhidos por amizade e por favoritismos
político partidários, e não pelas suas qualidades e competências.
Segundo Rousseau, “A democracia triunfante colocou definitivamente o velho
no mais baixo grau da consideração e esqueceu o que disse Montesquieu, que
afirmou que” numa democracia não há nada que mantenha tanto os costumes sociais
salutares, como a subordinação extrema dos mais novos aos mais velhos”.Pior do que isso, é que numa democracia, o Culto da Incompetência e a
prática ou inércia que se pratica e se manifesta, tudo se faz para se manter
longe e em silêncio, tudo e todos que possam pôr em causa essa inércia e esse
CULTO DA INCOMPETÊNCIA.
José Faria
Sem comentários:
Enviar um comentário