PORQUÊ LUGAR OU RIBEIRO DO BOI MORTO?
Já se vai perdendo em Pedrouços, na Maia, essa designação que davam ao Ribeiro e a um local, mais ou menos a meio da rua D. António de Castro Meireles.
Primeiro porque a Câmara Municipal da Maia ao criar um parque urbano de lazer nas margens do ribeiro do Boi Morto, "batizou" o parque e o ribeiro de AMORES. Mas ainda há que se refira "lá para o boi morto". Ora a lenda nunca foi propriamente lenda. Uns diziam que um boi morreu afogado por ali numa represa ou no ribeiro. Nada de concreto enem verdade, nem mentira.
E porque estas "coisas" não se devem perder porque tem a sua graça cultural, dei-me ao cuidado de recrear a história ou lenda do Boi Morto, antes que se apague para sempre.
No seguimento desta recriação, irei elaborar as quadras condizentes e descritivas da lenda, para que o conjunto venham, a integrar uma possível publicação em suporte de papel.
Eis a lenda do Boi Morto, de Pedrouços - Maia, novinha em folha.
LUGAR DE BOI
MORTO
PEDROUÇOS
Andava certo dia o lavrador Lima no
lameiro a cortar erva para o gado. Conforme a ia segando, ia-a deixando em
montes à sua agachada passagem. O corte, a olho, ia certinho, mostrando bem a
parte cortada a partir da linha de água. Tinha desatrelado os bois do carro
junto aos moinhos sobre o ribeiro que nasce na cidade do Porto, no alto da
Areosa, atravessa Pedrouços e Teibas em direção a Parada para aí se juntar às
águas do rio Leça.
Os bois andavam à vontade a pastar.
Como ainda não tinha feixes de erva
suficientes para encher o carro, e porque já eram mais do que horas para
almoçar, pois já tinha tocado as duas no sino da igreja de Pedrouços, o Lima
deixou o trabalho e foi ao tasco comer qualquer coisa, na rua D. António Castro
Meireles, a pouco mais de cem metros do campo. Um fígado de cebolada com batata
cozida, um naco de broa e duas tigelas de verde tinto, restituíram-lhe as
energias despendidas durante toda a manhã agachado a cortar erva.
Ia segar mais uns 10 ou 15 feixes para
encher o carro, e daria por terminada a faina. Com a foicinha sobre o ombro e a
fumar um pequeno Kentucky, dirigiu-se para onde tinha terminado o último corte.
Deitou os olhos na direção dos moinhos para ver os animais e só viu um deitado
à sombra. Olhou e voltou a olhar, mais acima, mais abaixo para ver se enxergava
o outro também deitado. Nada.
- Onde raio se meteu o animal?
Pensou em voz alta.
Foi na direção do que estava deitado
à sombra do moinho. Quando chegou junto dele, reparou que mais abaixo o outro
estava dentro do ribeiro.
- Que raio, como é que aí foste
parar? E foi na sua direção.
Mas começou já a imaginar o pior, o
boi não se mexia, a água quase o cobria junto a outro moinho mais abaixo. – “Meu
deus, o meu boi está morto! Meu Deus quem me acode… o meu boi afogou-se.
Alguns populares na rua ouviram-no e
foram na sua direção para o ajudar.
Nada a fazer. O boi, talvez querendo
beber água, aproximou-se demasiado do ribeiro e caiu lá dentro, precisamente
junto ao moinho onde é mais fundo. Com o corpo tapou a passagem da água que
passa por debaixo do moinho e fê-la subir, quase o cobrindo, afogando-se.
Tenha calma, sô Lima, tenha calma.
Diziam alguns populares.
Desde então, os populares quando queriam se referir àquele local, diziam. - "Lá no Boi Morto".
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Daí que, ainda hoje, mais ou menos a
meio dessa rua D. António Castro Meireles, ser conhecido de lugar do Boi Morto,
o que não é muito agrado dos residentes.
José Faria – 13/07/2020